Se amanhã me escusar
e num arrabalde de vontade
selar a vida e voar
correr o tempo e a idade,
ou apenas sonhar...
... felicidade.
Se for sério e for leal
e o coração não ultrajar
chegarei certo ao final
com o olhar a abarrotar
pelo riso num arraial...
... assossegar.
Se depois de tudo e tanto
alguma mágoa me ferir
vou ser forte e ter encanto
dar luta e sangrar, colorir
ser rugido e não ser santo...
... carpir.
Se for e não voltar
tenha azar ou tenha sorte
vou tentar aguentar
por demais a minha morte
isto tudo, apesar...
... passaporte.
Se amanhã não for melhor
e por muita dor que seja
não desisto, não senhor
todo o grito que mal veja
brado alto o meu furor...
... inveja.
Se tiver de ser incerteza
e alguns dias sem viver,
deixai-nos a gentileza
de em nós poder escolher
os olhos da nossa beleza
... amanhecer.
sábado, 7 de agosto de 2010
terça-feira, 13 de julho de 2010
Cortejar o teu amor
As horas não passam
ou não as sinto,
não há partidas
nem tempo,
a emoção seduz
o que a paixão pensa,
o pescador corteja o mar
sem algum apelo da vida,
as imagens gelam
o que a distância lambe
de amor…
-Não há sol
mas em mim,
o teu corpo arde!
ou não as sinto,
não há partidas
nem tempo,
a emoção seduz
o que a paixão pensa,
o pescador corteja o mar
sem algum apelo da vida,
as imagens gelam
o que a distância lambe
de amor…
-Não há sol
mas em mim,
o teu corpo arde!
Voo abstracto
Sigo gaivotas de azul,
em voos sonantes
de espuma veloz
…e todo o corpo voa
em rotas do acaso,
definidas nas nervuras
da água,
ou na brisa marinha.
…viajo no abstracto angular,
em redor dos espaços neutros,
onde o sentir é mais real!
em voos sonantes
de espuma veloz
…e todo o corpo voa
em rotas do acaso,
definidas nas nervuras
da água,
ou na brisa marinha.
…viajo no abstracto angular,
em redor dos espaços neutros,
onde o sentir é mais real!
terça-feira, 29 de junho de 2010
Solta a vida
Larga o medo
vence o silêncio
corre com o vento
e deixa-te levar.
Solta a vida
abraça o sonho
dá-me o teu tempo
entrelaça os dedos
no meu amor
e vamos lutar!
vence o silêncio
corre com o vento
e deixa-te levar.
Solta a vida
abraça o sonho
dá-me o teu tempo
entrelaça os dedos
no meu amor
e vamos lutar!
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Foi por ela...
Foi por ela que matei irmãos
e por ela roubei a luz ao dia,
foi por ela que tudo fiz
e assim será até ao fim de mim…
Ela ficará vivaça dos maus tratos de ontem,
e os tiros que dei para o ar
foi por ela, que em cravos gritaram
corados como o sangue
que por ela fez a vida correr,
ou em prisões de dor, torturadas.
Foi por ela que me afeiçoei
e só a ela visto as mãos
com risos na memória, vitória!
Foi por ela, quase a mais bela de todas
a estrondosa mulher amante
de todas as mulheres e homens de vontades
sem algemas nem grades,
-LIBERDADE.
Foi por ela,
que em nós povo
Abril se fez sol…foi por ela
e só por ela…
e por ela roubei a luz ao dia,
foi por ela que tudo fiz
e assim será até ao fim de mim…
Ela ficará vivaça dos maus tratos de ontem,
e os tiros que dei para o ar
foi por ela, que em cravos gritaram
corados como o sangue
que por ela fez a vida correr,
ou em prisões de dor, torturadas.
Foi por ela que me afeiçoei
e só a ela visto as mãos
com risos na memória, vitória!
Foi por ela, quase a mais bela de todas
a estrondosa mulher amante
de todas as mulheres e homens de vontades
sem algemas nem grades,
-LIBERDADE.
Foi por ela,
que em nós povo
Abril se fez sol…foi por ela
e só por ela…
Gumes de amor
Fogem das mãos os dedos,
depois o gesto
e o que sobra é silêncio,
o gume da luz sombreado
nas horas com os olhos em bicos de pés,
enquanto nos limites da língua
as aves sem músculos
sangram sonhos e momentos de dor,
adiando ardores, flamegando vícios
no tecto dos dias idos,
com a cor do amanhecer
pesando o lugar morto da luz
em jazigos de demora
que afinal, só eu sei assim…
E dizer que te amo por inteiro
é pouco para quem não sabe amar…
depois o gesto
e o que sobra é silêncio,
o gume da luz sombreado
nas horas com os olhos em bicos de pés,
enquanto nos limites da língua
as aves sem músculos
sangram sonhos e momentos de dor,
adiando ardores, flamegando vícios
no tecto dos dias idos,
com a cor do amanhecer
pesando o lugar morto da luz
em jazigos de demora
que afinal, só eu sei assim…
E dizer que te amo por inteiro
é pouco para quem não sabe amar…
domingo, 6 de junho de 2010
Lugar do meu espaço
Havia gaivotas
onde perto era mar,
corriam nos penhascos
meninos de vento e areia,
de braços no ar abertos
vinham na voz
de quem partiu
ficam em segredo
sorrisos e risos
que mais ninguém viu.
A história das águas
ouvi-a contar
na piela de um velho
que de quando em vez
à praia vem chorar
o que a ausência
vai bebendo do lugar.
Dormi nos galhos da rocha
onde as ondas não me chegavam ao sono,
ouvi os passos das aves
descerem pela praia
até à noite,
pelas manhã me encantei bebê-los
com o olhar,
são meninos de vento
que sinto velejar pelo corpo,
num lugar de espanto
em bocejos de sonho.
onde perto era mar,
corriam nos penhascos
meninos de vento e areia,
de braços no ar abertos
vinham na voz
de quem partiu
ficam em segredo
sorrisos e risos
que mais ninguém viu.
A história das águas
ouvi-a contar
na piela de um velho
que de quando em vez
à praia vem chorar
o que a ausência
vai bebendo do lugar.
Dormi nos galhos da rocha
onde as ondas não me chegavam ao sono,
ouvi os passos das aves
descerem pela praia
até à noite,
pelas manhã me encantei bebê-los
com o olhar,
são meninos de vento
que sinto velejar pelo corpo,
num lugar de espanto
em bocejos de sonho.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Poema d'amor no dilúvio da espera
O mundo dorme,
com ele
a minha lira,
descansam melodias meigas
no entoar do silêncio
desta longa espera.
Recolho uma lágrima
despedaçada no olhar
em fragmentos de dor
que o sentir oculta no rosto…
O mundo dorme,
a noite é longa…
Sei-o!
e a escuridão esmaga
com garras de solidão
os meus gestos sem sono!
Lanço-me na volúpia do luar
e invado o vazio da noite
com as tuas formas de encanto
que na memória se agitam…
entre ternos desejos
e a vasta ausência,
ardem sentimentos
exaustos de te esperar…
São óbolos reais carrascos
que a distância da vida,
erguem altos muros
onde os meus olhos embriagados,
consentem lágrimas!
com ele
a minha lira,
descansam melodias meigas
no entoar do silêncio
desta longa espera.
Recolho uma lágrima
despedaçada no olhar
em fragmentos de dor
que o sentir oculta no rosto…
O mundo dorme,
a noite é longa…
Sei-o!
e a escuridão esmaga
com garras de solidão
os meus gestos sem sono!
Lanço-me na volúpia do luar
e invado o vazio da noite
com as tuas formas de encanto
que na memória se agitam…
entre ternos desejos
e a vasta ausência,
ardem sentimentos
exaustos de te esperar…
São óbolos reais carrascos
que a distância da vida,
erguem altos muros
onde os meus olhos embriagados,
consentem lágrimas!
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Em mim, poesia!
Dentro de mim, poesia!
Divagam palavras
unem-se em frases certas
e reflectem o sentir real
de um momento único
que me invade.
Dentro de mim, poesia!
Surgem ideias virgens,
na pele volátil
do exclusivo existir
que moro!
…deito-me no papel,
e ardem no vazio inerte
todo o sentido do olhar
que se eleva em fumo branco!
Dentro de mim, poesia!
Desliza no fluxo da vida,
o extracto poético da alma,
que por seivas de sangue
se rasga em versos…
O fulgor do pensar
escorre continuo
pelo limiar do instante,
sobre raízes do corpo,
até à cinza dos ossos
que a morte dissolve,
na claridade dum sorriso!
Divagam palavras
unem-se em frases certas
e reflectem o sentir real
de um momento único
que me invade.
Dentro de mim, poesia!
Surgem ideias virgens,
na pele volátil
do exclusivo existir
que moro!
…deito-me no papel,
e ardem no vazio inerte
todo o sentido do olhar
que se eleva em fumo branco!
Dentro de mim, poesia!
Desliza no fluxo da vida,
o extracto poético da alma,
que por seivas de sangue
se rasga em versos…
O fulgor do pensar
escorre continuo
pelo limiar do instante,
sobre raízes do corpo,
até à cinza dos ossos
que a morte dissolve,
na claridade dum sorriso!
Venho da alma
Venho dos refúgios da carne,
imóvel no longínquo dos dias
onde os mares cavam rios,
que se abrem em sulcos
até ao acordar dos céus,
nos ninhos inconfessos
de eximias gaivotas,
em cardumes sem garganta…
Venho da vertente dum poema
escrito por meninos de sede,
na distância do meu corpo!
Corri os mares
E os vastos oceanos,
…corri os eflúvios do corpo,
descem à memória
e se debruçam calados
em sombras que se afogam
…deslizei do olhar
por brumas obliquas
onde os homens choram
os crimes dos homens…
Venho d além longe,
da margem…
um ponto fixo
na distância dos séculos
e perto da alma!
imóvel no longínquo dos dias
onde os mares cavam rios,
que se abrem em sulcos
até ao acordar dos céus,
nos ninhos inconfessos
de eximias gaivotas,
em cardumes sem garganta…
Venho da vertente dum poema
escrito por meninos de sede,
na distância do meu corpo!
Corri os mares
E os vastos oceanos,
…corri os eflúvios do corpo,
descem à memória
e se debruçam calados
em sombras que se afogam
…deslizei do olhar
por brumas obliquas
onde os homens choram
os crimes dos homens…
Venho d além longe,
da margem…
um ponto fixo
na distância dos séculos
e perto da alma!
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Não te crei, Senhor?!
Dei o meu corpo
ás tuas raízes…
Senhor
e também dei a alma
que te entrego fiel!
…doei-te o meu existir
nu a teu olhos
abro os braços febris,
abro o peito ao fogo que me habita,
e o sentir dilata-se
cresce, nos fios do teu lar
ou nas contracções dum sol
escorrendo sem rumo,
na vertente da face
onde separo a vida
…onde a fé é um eco
deste mundo em sangue…
Não te creio, Senhor!
…e sei que morro!
sabem as veias,
o acordar diurno das fogueira
…e sobe a solidão
na penumbra nocturna
cavada em restos de luar…
Não me sinto profeta!
Não o sou, sei-o!
não possuo no ventre
o ritual dos sábios
ou as encéfalos sem pele
dos mensageiros do céu!
…mas não te creio, não!
Senhor
agora os homens cantam,
e canto com eles
entoações cinzentas duma espera inútil
ao câmbio do tempo!
…Não! Não te creio!
suprimo à mente
a imagem do teu templo
recolho da razão íntima
todo o cepticismo,
que a certeza decifra
na própria incerteza!
Creio no irreal
no vazio indefinido do absurdo…
Na paz!
Busco-a no meu espaço,
mas não a tua paz
onde os deuses se enlaçam
e se abandona o real!
Senhor!
sim creio na paz
na que oculto no útero
com o fulgor bravio
do silêncio que invento,
lanço à tua silhueta
o meu discreto desafio!
Não, Senhor Deus
não te creio…
Contudo
invoco-te confuso
da certeza do teu existir!
desconheço-te!
…sabes o meu nome
…eu sei a distância
pelo tempo fora…
ás tuas raízes…
Senhor
e também dei a alma
que te entrego fiel!
…doei-te o meu existir
nu a teu olhos
abro os braços febris,
abro o peito ao fogo que me habita,
e o sentir dilata-se
cresce, nos fios do teu lar
ou nas contracções dum sol
escorrendo sem rumo,
na vertente da face
onde separo a vida
…onde a fé é um eco
deste mundo em sangue…
Não te creio, Senhor!
…e sei que morro!
sabem as veias,
o acordar diurno das fogueira
…e sobe a solidão
na penumbra nocturna
cavada em restos de luar…
Não me sinto profeta!
Não o sou, sei-o!
não possuo no ventre
o ritual dos sábios
ou as encéfalos sem pele
dos mensageiros do céu!
…mas não te creio, não!
Senhor
agora os homens cantam,
e canto com eles
entoações cinzentas duma espera inútil
ao câmbio do tempo!
…Não! Não te creio!
suprimo à mente
a imagem do teu templo
recolho da razão íntima
todo o cepticismo,
que a certeza decifra
na própria incerteza!
Creio no irreal
no vazio indefinido do absurdo…
Na paz!
Busco-a no meu espaço,
mas não a tua paz
onde os deuses se enlaçam
e se abandona o real!
Senhor!
sim creio na paz
na que oculto no útero
com o fulgor bravio
do silêncio que invento,
lanço à tua silhueta
o meu discreto desafio!
Não, Senhor Deus
não te creio…
Contudo
invoco-te confuso
da certeza do teu existir!
desconheço-te!
…sabes o meu nome
…eu sei a distância
pelo tempo fora…
terça-feira, 13 de abril de 2010
Olhei-te
Olhei-te do cimo de mim
para o creme da tua vida
cansada de horas descontentes.
Olhei o outro lado do sonho
pelos vidros da bisbilhotice
e o zelo foi-se dos ossos
no fundilhos do desvario...
Olhei-te na hesitação dúbia
pelo lado irrequieto do sentimento,
sôfrego nas meias-horas de uma metade
e esperei pelo anoitecer para te comer,
tu e o meu bolo de chocolate
…com o creme da tua vida
olhado do cimo de mim!
para o creme da tua vida
cansada de horas descontentes.
Olhei o outro lado do sonho
pelos vidros da bisbilhotice
e o zelo foi-se dos ossos
no fundilhos do desvario...
Olhei-te na hesitação dúbia
pelo lado irrequieto do sentimento,
sôfrego nas meias-horas de uma metade
e esperei pelo anoitecer para te comer,
tu e o meu bolo de chocolate
…com o creme da tua vida
olhado do cimo de mim!
sábado, 10 de abril de 2010
Sentir apenas
Sentir o verve quente que nos une,
o abraço solto e férreo que nos enlaça,
a matilha de emoções que nos grassa
e no fim achar o doce encanto do desejo
que para lá das palavras e dos gestos
para além das emoções e dos sentidos,
nos dá vontade de estar outra vez…
Sentir que o encanto se deslumbra
e que todas as palavras que se calam
ficam no âmago do coração,
e sentir que se a vida fosse de outra forma
… minha querida quantas formas te diria
daquilo que não te disse…
Sentir que o sentimento também se cala,
e que no ímpeto do calor, os corpos vibram
e no fim, sentir que sou teu e tu és minha,
entre silêncios que se vestem
com o sentir que temos calados e ocultos,
nas palavras que não dizemos…
o abraço solto e férreo que nos enlaça,
a matilha de emoções que nos grassa
e no fim achar o doce encanto do desejo
que para lá das palavras e dos gestos
para além das emoções e dos sentidos,
nos dá vontade de estar outra vez…
Sentir que o encanto se deslumbra
e que todas as palavras que se calam
ficam no âmago do coração,
e sentir que se a vida fosse de outra forma
… minha querida quantas formas te diria
daquilo que não te disse…
Sentir que o sentimento também se cala,
e que no ímpeto do calor, os corpos vibram
e no fim, sentir que sou teu e tu és minha,
entre silêncios que se vestem
com o sentir que temos calados e ocultos,
nas palavras que não dizemos…
Deitei o diabo
Deitei-me com a ira do sono
em tarimbas de exaltação no pensamento,
fingi que dormia com o vento
e fui roubar as noivas do luar
aos píncaros do silêncio envolvente
onde os corpos sonham ausentes,
ladrilhados de brados brancos
pelo linho das manhãs
onde o diabo dormia
vertiginosos minutos mouros
de um destino que a galopes vivia
o âmbar dos queixumes,
nesta forma de ser
no ventre das evidências…
em tarimbas de exaltação no pensamento,
fingi que dormia com o vento
e fui roubar as noivas do luar
aos píncaros do silêncio envolvente
onde os corpos sonham ausentes,
ladrilhados de brados brancos
pelo linho das manhãs
onde o diabo dormia
vertiginosos minutos mouros
de um destino que a galopes vivia
o âmbar dos queixumes,
nesta forma de ser
no ventre das evidências…
domingo, 4 de abril de 2010
Deixei assim
Da boca deixei cair beijos
Serenamente calados,
Tristemente silêncios
Como todos aqueles beijos bons
Que se dão só para nós.
Da alma deixei tombar os olhos
Porque no caminho os perdi,
E na estranheza do sentir
Vegetei ao sangue maduro
O sangue que tanto vivi.
Do corpo deixei trucidado
O espírito, e o senso sem vestes
Deixei o âmago, e a utopia
Versejei a mentira, a cor
E corri atrás de um temporal
Que afinal não tinha fim.
Do resto deixei o gesto
Suspenso nas hipérboles mais loucas
Das loucas simetrias que a vida tem,
Deixei o riso e a palavra, o silêncio
E o que de melhor sonho
Tem o sonho além…
Serenamente calados,
Tristemente silêncios
Como todos aqueles beijos bons
Que se dão só para nós.
Da alma deixei tombar os olhos
Porque no caminho os perdi,
E na estranheza do sentir
Vegetei ao sangue maduro
O sangue que tanto vivi.
Do corpo deixei trucidado
O espírito, e o senso sem vestes
Deixei o âmago, e a utopia
Versejei a mentira, a cor
E corri atrás de um temporal
Que afinal não tinha fim.
Do resto deixei o gesto
Suspenso nas hipérboles mais loucas
Das loucas simetrias que a vida tem,
Deixei o riso e a palavra, o silêncio
E o que de melhor sonho
Tem o sonho além…
terça-feira, 30 de março de 2010
Hoje
Hoje urdi-te enganando-me,
fui metade de mim em ti por inteiro,
senti-me mal e numa áspide de emoções
vocirei-me e transbordei da alma
o que pior me veste e cala...
hoje não fui teu amigo,
nem meu porventura,
fui amante do malvado
e desculpa a inépcia
mas há dias em que sou assim!
fui metade de mim em ti por inteiro,
senti-me mal e numa áspide de emoções
vocirei-me e transbordei da alma
o que pior me veste e cala...
hoje não fui teu amigo,
nem meu porventura,
fui amante do malvado
e desculpa a inépcia
mas há dias em que sou assim!
terça-feira, 23 de março de 2010
Choro, apenas porque sou emotivamente fraco
Choro o destino que não tiveste
e o desejo que te li,
foi assim um dia
e ainda assim somos…
Choro o que não me deste
e choro o que tanto te quero dar,
na vergonha de chorar confesso
deixo que as trevas adormeçam
e choro uma daninha emoção
com o teu rosto do tamanho dos olhos,
e o meu destino não te esquece
quando em surdina te navego
sem cansar o acaso de sermos assim.
Por isso choro singelos silêncios
de algumas tristezas, enfim
mas também choro o teu nome
sempre que me lembro de ti,
meu amor
e o desejo que te li,
foi assim um dia
e ainda assim somos…
Choro o que não me deste
e choro o que tanto te quero dar,
na vergonha de chorar confesso
deixo que as trevas adormeçam
e choro uma daninha emoção
com o teu rosto do tamanho dos olhos,
e o meu destino não te esquece
quando em surdina te navego
sem cansar o acaso de sermos assim.
Por isso choro singelos silêncios
de algumas tristezas, enfim
mas também choro o teu nome
sempre que me lembro de ti,
meu amor
O meu espaço é imenso
Na brancura do papel
deixo tombadas as palavras
que seguram o asfalto
com queixumes de dor,
que fluem das mãos
por caudais inumanos
de pupilas pobres,
por mim
toldadas de cansaço…
O meu espaço é imenso
não tem margens…
- com gritos acesos
açoito o destino
como o despertar
do esquecimento,
de um jovem trovador!
Aqui se perdem palavras
…perderam-se no peito,
esquecidas na melopeia
das frases pobres
que sigo com as mãos
até que os lábios adormeçam!...
deixo tombadas as palavras
que seguram o asfalto
com queixumes de dor,
que fluem das mãos
por caudais inumanos
de pupilas pobres,
por mim
toldadas de cansaço…
O meu espaço é imenso
não tem margens…
- com gritos acesos
açoito o destino
como o despertar
do esquecimento,
de um jovem trovador!
Aqui se perdem palavras
…perderam-se no peito,
esquecidas na melopeia
das frases pobres
que sigo com as mãos
até que os lábios adormeçam!...
quarta-feira, 3 de março de 2010
Soltam-se palavras
Momentos que a vida empresta
nas asas seguras de um sonho
soltam-se palavras
na emoção contida
silêncios que tudo contam,
pedaços solidificados
cristais na imensidão da emoção
olhares cúmplices
em instantes
tatuados no mais profundo do peito…
Fragmentos amplos
num céu comum
meu e teu
num abraço estrelado
constelação no equinócio do destino
na morada esculpida nas páginas de um livro.
nas asas seguras de um sonho
soltam-se palavras
na emoção contida
silêncios que tudo contam,
pedaços solidificados
cristais na imensidão da emoção
olhares cúmplices
em instantes
tatuados no mais profundo do peito…
Fragmentos amplos
num céu comum
meu e teu
num abraço estrelado
constelação no equinócio do destino
na morada esculpida nas páginas de um livro.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Sonhei ser lágrima
Esculpi em mim
numa só camada de dor,
a lágrima que sonhei ser,
na terra fértil,
dum só rio único
descendo na intimidade
da raiz que cresce.
Improvisei os contornos
com traços de cimento,
à distância dum tempo
concedo a existência
ao inconcreto real
daquilo que sou!
…e todo o corpo liquido
são ossos da língua
que o sonho sustenta
em ruínas de asfalto
…onde o sangue chora
submerso no vazio diário!...
E sou fragor de mim
nas horas que se perdem,
em rios de Outono
como murmúrios amargos
na ausência da razão…
numa só camada de dor,
a lágrima que sonhei ser,
na terra fértil,
dum só rio único
descendo na intimidade
da raiz que cresce.
Improvisei os contornos
com traços de cimento,
à distância dum tempo
concedo a existência
ao inconcreto real
daquilo que sou!
…e todo o corpo liquido
são ossos da língua
que o sonho sustenta
em ruínas de asfalto
…onde o sangue chora
submerso no vazio diário!...
E sou fragor de mim
nas horas que se perdem,
em rios de Outono
como murmúrios amargos
na ausência da razão…
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Apresentação do nosso livro-Convite
"Nuances.....de Um Silêncio a Dois"
evento irá realizar-se no dia 20 de Fevereiro próximo, e conta com o apoio da Câmara Municipal do Alenquer.
Esta apresentação está inserida na Feira do Livro a decorrer no Fórum Romeira em Alenquer, local onde será realizado o evento.
A organização do evento estará a cargo da editora que contará com alguns momentos musicais e com as crianças presentes, irão ser desenvolvidas actividades pedagógicas por animadoras socioculturais, que estarão sob orientação de Cátia Costa.
Gostaríamos de poder contar com a Vossa presença.
Partilhamos convosco partes do prefácio escrito pelo Prof. Arlindo Mota
PREFÁCIO
Ana coelho e José Antunes: entre nuances, sonhos e cumplicidades
Ana Coelho e José Antunes, são dois autores com uma envolvente e genuína pulsão pela poesia. Na escrita e nos gestos, que de gestos também se constrói a poesia. Buscam com paixão e rigor o segredo das palavras, que renovam sem cessar. Parcimoniosos na utilização de metáforas, optam claramente por não assentar na metrificação clássica, salvo uma ou outra incursão, num ou noutro poema.
Conhecedores da herança lírica portuguesa, não se confinam ao formalismo e abordam a linguagem com criatividade, onde os temas do amor estão abundantemente presentes, mas também o psicológico e o social (sem cair no realismo) não são esquecidos e isso revela-se ao longo de todo do livro. A sua poesia, seguindo a moderna estética, constitui a verdade de um mundo sentido por uma subjectividade; o que ela diz é um mundo para o homem, um mundo visto de dentro, mundo singular e inimitável a que só o sentimento dará acesso.
Falei até agora dos autores como se fossem apenas um: eles de alguma forma a isso nos conduzem, porque se apresentam juntos, face a se face, porque o livro constitui para eles a sagração dessa comunhão. Mas, em boa verdade, se muitos traços os identificam, outros os distinguem. Ana Coelho navega mais suavemente nas palavras, é, de algum modo, o lado assumidamente feminino do livro; José Antunes, de escrita comedida, apresenta mais arestas na leitura e na interpretação da sua simbologia. Comum aos dois, a contenção vocabular e arredia da adjectivação excessiva, que torna a sua poesia rigorosa e límpida, dotada de uma invejável coerência interna.
O livro, por sua opção, apresenta-se dividido em cinco capítulos: “Momentos”; “Trincheiras de Sonho”; “Distâncias”; “Lampejos”; “Cumplicidades”.
Janeiro de 2010
Arlindo Mota*
ARLINDO PATO MOTA* é licenciado em Filosofia e em Direito, Mestre em Ciência Política, investigador Universitário, Escritor e poeta.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Ventanias amantes
Duas ventanias no chão
a brincar um luar
com a sua expressão
Ah! esse riso garoto
tão fácil de amar
... e a noite noivada de desejos
suspirou por ela.
Duas ventanias no capim
a fazerem ventinhos
chilreiam em mim
- são rosas, são carinhos
que colho da sua indiferença
...Ò linda,
que pena tenho eu de em ti
não amanhecer,
logo eu, linda
que sou doido por te olhar!...
a brincar um luar
com a sua expressão
Ah! esse riso garoto
tão fácil de amar
... e a noite noivada de desejos
suspirou por ela.
Duas ventanias no capim
a fazerem ventinhos
chilreiam em mim
- são rosas, são carinhos
que colho da sua indiferença
...Ò linda,
que pena tenho eu de em ti
não amanhecer,
logo eu, linda
que sou doido por te olhar!...
domingo, 31 de janeiro de 2010
Meretizes
Andam pálidas pelas ruas
as almas das meretrizes,
vão nuas, as vergonhas suas
apedrejadas pelas vielas
sofrem no tecto do mundo
e à noite choram às luas
saudades varinas e horas lindas.
Sobre os brados da memória
correm sonhos em clave de sóis sós
sustidos com a força de dó...
andam sombras perdidas dos passos
são mulheres, outras meninas,
e todas são ninguém...
... um ninguém que magoa
ao sentir-se assim, entre silêncios
e esquecimentos,
como andarilhos velhacos
de todo o pensamento.
as almas das meretrizes,
vão nuas, as vergonhas suas
apedrejadas pelas vielas
sofrem no tecto do mundo
e à noite choram às luas
saudades varinas e horas lindas.
Sobre os brados da memória
correm sonhos em clave de sóis sós
sustidos com a força de dó...
andam sombras perdidas dos passos
são mulheres, outras meninas,
e todas são ninguém...
... um ninguém que magoa
ao sentir-se assim, entre silêncios
e esquecimentos,
como andarilhos velhacos
de todo o pensamento.
sábado, 16 de janeiro de 2010
No auge dos campos (IV)
…à cidade
chegam homens em manadas
- diárias –
como nuvens fora da jaula
no rasto de um sol cobarde
que os anjos protegem
nos braços do senhor!
Tem nas faces gravados
sinais camponeses
da cor do centeio
que se desfolha com as mãos afiadas,
em epidermes de uma fome,
pobre,
saliente nas areias
de um racismo voraz…
suam medos
-disfarçam-nos
na sede de serem
algo mais que a idade
de uma ruga…
as avenidas espantam
os virgens namorados
com mascaras de cinismo
e maldades ou crimes
com que se desnudam
da vergonha
do orgulho…
chegam homens em manadas
- diárias –
como nuvens fora da jaula
no rasto de um sol cobarde
que os anjos protegem
nos braços do senhor!
Tem nas faces gravados
sinais camponeses
da cor do centeio
que se desfolha com as mãos afiadas,
em epidermes de uma fome,
pobre,
saliente nas areias
de um racismo voraz…
suam medos
-disfarçam-nos
na sede de serem
algo mais que a idade
de uma ruga…
as avenidas espantam
os virgens namorados
com mascaras de cinismo
e maldades ou crimes
com que se desnudam
da vergonha
do orgulho…
No auge dos campos (III)
Partem
sem brilho nem velas,
mastros arreados no convéns
de um olhar preso de azul…
…oram
e temerosos dos céus
malfadarem os destinos,
agradecem
a quanta ingratidão
a terra lhes deu.
sem brilho nem velas,
mastros arreados no convéns
de um olhar preso de azul…
…oram
e temerosos dos céus
malfadarem os destinos,
agradecem
a quanta ingratidão
a terra lhes deu.
No auge dos campos (II)
junto ao tempo
os mais débeis
vêem-nos partir
impotentes para a aventura
de uma migração última,
aguardam esquecidos
até que os sonâmbulos
se trucidam e morram!
Para trás,
o silêncio crispado
na boca de um petiz,
que grita baixinho
no aceno de uma mulher que chora…
os mais débeis
vêem-nos partir
impotentes para a aventura
de uma migração última,
aguardam esquecidos
até que os sonâmbulos
se trucidam e morram!
Para trás,
o silêncio crispado
na boca de um petiz,
que grita baixinho
no aceno de uma mulher que chora…
No auge dos campos (I)
Em voos lentos
as sombras nostálgicas,
animais açoitam flores sós,
o Outono teme o frio
e os campos murcham
tornam-se amargos
os músculos,
cansados de serem apenas
o esgar de uma magra colheita,
que a dó
ceifam com foices a idade.
…os homens ignoram
as sementeiras,
abandonam as trincheiras míseras
e partem no pólen
de um momento de sorte,
nos confins da fatídica cidade
recheada de aliciantes
que só brilham quando os
homens cegam…
…tinham na carne
Uma bússola selvagem.
Nos planaltos estendem-se
Rosas-dos-ventos
Em lençóis de lágrimas,
No pranto de uma despedida…
- o adeus de uma flor
Que foi amante dos mimos seus…
…mãe de um rebento seu também!
as sombras nostálgicas,
animais açoitam flores sós,
o Outono teme o frio
e os campos murcham
tornam-se amargos
os músculos,
cansados de serem apenas
o esgar de uma magra colheita,
que a dó
ceifam com foices a idade.
…os homens ignoram
as sementeiras,
abandonam as trincheiras míseras
e partem no pólen
de um momento de sorte,
nos confins da fatídica cidade
recheada de aliciantes
que só brilham quando os
homens cegam…
…tinham na carne
Uma bússola selvagem.
Nos planaltos estendem-se
Rosas-dos-ventos
Em lençóis de lágrimas,
No pranto de uma despedida…
- o adeus de uma flor
Que foi amante dos mimos seus…
…mãe de um rebento seu também!
domingo, 27 de dezembro de 2009
Amantes sentidos
Deixo os desejos calados
na madrugada que afaga
as minhas risadas noutra boca
onde o amor fluía aprendiz.
Na paz do silêncio neva
entre as vísceras tragando
o silêncio e o desasossego.
... lavado nas emoções do sereno,
noutras ausências morrem ventos
colhidos ao coração que pula
seus ritmos diferentes,
de tudo quanto se sente
no aprender da semente
que a prumo se adulta,
na teima de ser gente!
na madrugada que afaga
as minhas risadas noutra boca
onde o amor fluía aprendiz.
Na paz do silêncio neva
entre as vísceras tragando
o silêncio e o desasossego.
... lavado nas emoções do sereno,
noutras ausências morrem ventos
colhidos ao coração que pula
seus ritmos diferentes,
de tudo quanto se sente
no aprender da semente
que a prumo se adulta,
na teima de ser gente!
Amo-a
Amo-a, e por amá-la me sufoco
dia após dia sem hora marcada.
Por ela salto da lua para o chão
as vezes que bastem para a ter amante.
Amo-a. Ela sabe-o e disfarça
com sorrisos de ramos em flor.
Sigo-a sem pensar, pelos passos pequenos
que dá pelos fins de dia.
À noite sonho-a, amo-a e enlouqueço
num padecer sem demência
até que o dia seguinte nasça
na neura dos sentidos.
Amo-a e por tanto a amar
sofro o desconsolo dos olhos
num ardor de memórias
e entranhas que acabam sempre
num retrato dela,
... choro à ganância
e na plena fraqueza
brado o seu nome
e vou mirrando!?...
dia após dia sem hora marcada.
Por ela salto da lua para o chão
as vezes que bastem para a ter amante.
Amo-a. Ela sabe-o e disfarça
com sorrisos de ramos em flor.
Sigo-a sem pensar, pelos passos pequenos
que dá pelos fins de dia.
À noite sonho-a, amo-a e enlouqueço
num padecer sem demência
até que o dia seguinte nasça
na neura dos sentidos.
Amo-a e por tanto a amar
sofro o desconsolo dos olhos
num ardor de memórias
e entranhas que acabam sempre
num retrato dela,
... choro à ganância
e na plena fraqueza
brado o seu nome
e vou mirrando!?...
domingo, 20 de dezembro de 2009
A lágrima morreu
Num caixão sem soalho,
a lágrima ia nua e singela
ia só nos despojos da vida,
ia sem voz nem beleza,
talvez morta pela míngua
talvez farta pela destreza,
mas no fim, a lágrima morreu…
foi uma septicemia fatal
uma dor ansiando ser tristeza,
ou uma tristeza ansiando esquecer,
mas a lágrima morreu,
morreu boçal e livre
num incesto de emoções,
morreu breve e solteira
como deve uma boa lágrima,
morreu apenas
sem sequelas para o coração,
morreu só, morreu chorando
a vida recauchutada
que lhe deu uma peritonite amiga!
A lágrima morreu,
Ficou o sal…
a lágrima ia nua e singela
ia só nos despojos da vida,
ia sem voz nem beleza,
talvez morta pela míngua
talvez farta pela destreza,
mas no fim, a lágrima morreu…
foi uma septicemia fatal
uma dor ansiando ser tristeza,
ou uma tristeza ansiando esquecer,
mas a lágrima morreu,
morreu boçal e livre
num incesto de emoções,
morreu breve e solteira
como deve uma boa lágrima,
morreu apenas
sem sequelas para o coração,
morreu só, morreu chorando
a vida recauchutada
que lhe deu uma peritonite amiga!
A lágrima morreu,
Ficou o sal…
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Solidões mouras
Na ocidental lua nova
ganem saudades e enfins
em quotidianos de alma ardida
e ventos antagónicos
... com a prosa de um poeta
nas escamas do sangue verve
onde os sonos nascem dias
enquanto os anos dançam utopias
nos beiços da vida só!
Com os olhares gratinados
e a língua à míngua da voz
entre fumos e vazios, cinzas
apenas preso às evidências
por um rasgo de luz rosada...
Suados, o ventos trazem avisos
memórias de outras quimeras
que um gesto vulgar desperta e brilha
na essência do pensador.
Ora mansos, ora frios
os desafios salpicam a fé
num fervor mouro à carga
pelo corpo até à alma crua e nua
donde nascem o dia e a lua
apaixonadamente vivos.
- Na orla do espírito
a realidade planta dor e riso
no capim dos acasos virtuais
que vestem os momentos
e trilham o fim dos sentidos...
No calor do silêncio
os olhos lembram amigos idos
e amores vendidos
ao desejo do ser!
ganem saudades e enfins
em quotidianos de alma ardida
e ventos antagónicos
... com a prosa de um poeta
nas escamas do sangue verve
onde os sonos nascem dias
enquanto os anos dançam utopias
nos beiços da vida só!
Com os olhares gratinados
e a língua à míngua da voz
entre fumos e vazios, cinzas
apenas preso às evidências
por um rasgo de luz rosada...
Suados, o ventos trazem avisos
memórias de outras quimeras
que um gesto vulgar desperta e brilha
na essência do pensador.
Ora mansos, ora frios
os desafios salpicam a fé
num fervor mouro à carga
pelo corpo até à alma crua e nua
donde nascem o dia e a lua
apaixonadamente vivos.
- Na orla do espírito
a realidade planta dor e riso
no capim dos acasos virtuais
que vestem os momentos
e trilham o fim dos sentidos...
No calor do silêncio
os olhos lembram amigos idos
e amores vendidos
ao desejo do ser!
Por já não me amares
Por não estar perto de ti
ou por sentir-te longe demais
suei angústias e medos
com os olhos debaixo das mãos
e as mãos dedilhadas
sobre os desejos do peito
... dedos sobre o esmorecer da força
trémulos de inquietações
que ao ver-te fardada de seduções
e no inútil das vezes que tento
amar a espera que desespera
por já de véspera saber
que não virás,
- mas não quero o teu amor
devolvido por pedaços
de esmolas,
saturado de esperanças erradas.
Quero ir para longe de ti
sem que ninguém me veja partir
e já longe, amargurado
sei que vou sentir
a vontade infernosa
de querer estar perto de ti!
ou por sentir-te longe demais
suei angústias e medos
com os olhos debaixo das mãos
e as mãos dedilhadas
sobre os desejos do peito
... dedos sobre o esmorecer da força
trémulos de inquietações
que ao ver-te fardada de seduções
e no inútil das vezes que tento
amar a espera que desespera
por já de véspera saber
que não virás,
- mas não quero o teu amor
devolvido por pedaços
de esmolas,
saturado de esperanças erradas.
Quero ir para longe de ti
sem que ninguém me veja partir
e já longe, amargurado
sei que vou sentir
a vontade infernosa
de querer estar perto de ti!
Espero-te
Vem! Eu sou a ramagem
e tu és o sol que nele se dorme,
a mansidão do tempo,
correndo pelos beijos e abraços
de um momento singelo, iluminado
Vem, vem solta para mim
tráz de novo o sonho lindo
onde eu sou o teu herói
e tenho os olhos redondos de amor
por ti ardentes e paixão!
Vem! Eu sou o crepúsculo
que sempre te espera aqui
com essa saudade híbrida
que deixa o vazio
da tua ausência.
e tu és o sol que nele se dorme,
a mansidão do tempo,
correndo pelos beijos e abraços
de um momento singelo, iluminado
Vem, vem solta para mim
tráz de novo o sonho lindo
onde eu sou o teu herói
e tenho os olhos redondos de amor
por ti ardentes e paixão!
Vem! Eu sou o crepúsculo
que sempre te espera aqui
com essa saudade híbrida
que deixa o vazio
da tua ausência.
domingo, 29 de novembro de 2009
Para vós, mulheres
Nasceram tímidas
em sulcos inconfessos do viver,
escravas dos dias possantes,
calvas de terror místico
ou húmidas de submissas,
carne que o macho fecunda
por capricho de a querer cativa.
Foram inatas germinadoras
de reprodutores carnais,
tão longínquas
que nem sentiam o júbilo prazer
subir nos ossos dos seus entalhes,
apontados sem remorsos
na obrigação de criar os seus.
Anos passaram.
Séculos de desejo oprimido,
cultos de mãe
em templos de razão.
Fêmea de um só mercador
que a embriaguez sovava e vendia,
ao preço de uma discussão
sem diálogo,
por um pouco de pão e dor.
Cresceram revoltas,
motins de vergonha, pesadelos
conquistaram um vazio
que sempre foi seu,
mas que a voz máscula
confinou ao fracasso.
Tornaram-se ousadas
como os homens ousados foram,
disseram ao mundo
o sentido condigno do querer
tão visível
que os carrascos lhes foram
comer à mão.
Quiseram ser grandes
e foram enormes.
Tiveram medos
mas foram audazes,
lutaram amarguras,
decidiram momentos de decisão,
e amaram os homens
com gemidos de intimidade
que eles jamais haviam amado.
Criaram seus filhos
com o mesmo ensinamento
de suas mães,
gritaram trabalho
e num rasgo de independência
quiseram ser livres
e foram a liberdade,
a boca reivindicando igualdade.
Foram a evidência
das suas vontades,
nos lábios dos severos justos.
… Numa admiração às suas vitórias
tão duramente esboçadas
quão difíceis de encetar gloriosas,
a vingança tardia,
de quantas inúmeras mulheres,
por elas foram lápides
antes da morte!
Fossem os homens justos
e nenhuma mulher
seria a ausência…
… como foi possível
tantos anos, tanto egoísmo
se homem e mulher
são diagonais da mesma ossada,
que se interceptam
em qualquer ponto
de uma recta algures,
onde a vida
completa a vida!
em sulcos inconfessos do viver,
escravas dos dias possantes,
calvas de terror místico
ou húmidas de submissas,
carne que o macho fecunda
por capricho de a querer cativa.
Foram inatas germinadoras
de reprodutores carnais,
tão longínquas
que nem sentiam o júbilo prazer
subir nos ossos dos seus entalhes,
apontados sem remorsos
na obrigação de criar os seus.
Anos passaram.
Séculos de desejo oprimido,
cultos de mãe
em templos de razão.
Fêmea de um só mercador
que a embriaguez sovava e vendia,
ao preço de uma discussão
sem diálogo,
por um pouco de pão e dor.
Cresceram revoltas,
motins de vergonha, pesadelos
conquistaram um vazio
que sempre foi seu,
mas que a voz máscula
confinou ao fracasso.
Tornaram-se ousadas
como os homens ousados foram,
disseram ao mundo
o sentido condigno do querer
tão visível
que os carrascos lhes foram
comer à mão.
Quiseram ser grandes
e foram enormes.
Tiveram medos
mas foram audazes,
lutaram amarguras,
decidiram momentos de decisão,
e amaram os homens
com gemidos de intimidade
que eles jamais haviam amado.
Criaram seus filhos
com o mesmo ensinamento
de suas mães,
gritaram trabalho
e num rasgo de independência
quiseram ser livres
e foram a liberdade,
a boca reivindicando igualdade.
Foram a evidência
das suas vontades,
nos lábios dos severos justos.
… Numa admiração às suas vitórias
tão duramente esboçadas
quão difíceis de encetar gloriosas,
a vingança tardia,
de quantas inúmeras mulheres,
por elas foram lápides
antes da morte!
Fossem os homens justos
e nenhuma mulher
seria a ausência…
… como foi possível
tantos anos, tanto egoísmo
se homem e mulher
são diagonais da mesma ossada,
que se interceptam
em qualquer ponto
de uma recta algures,
onde a vida
completa a vida!
Meretrizes
Andam pálidas pelas ruas
as almas das meretrizes,
vão nuas, as vergonhas suas
apedrejadas pelas vielas
sofrem no tecto do mundo
e à noite choram às luas
saudades varinas e horas lindas.
Sobre os brados da memória
correm sonhos em clave de sóis sós
sustidos com a força de dó...
andam sombras perdidas dos passos
são mulheres, outras meninas,
e todas são ninguém...
... um ninguém que magoa
ao sentir-se assim, entre silêncios
e esquecimentos,
como andarilhos velhacos
de todo o pensamento.
as almas das meretrizes,
vão nuas, as vergonhas suas
apedrejadas pelas vielas
sofrem no tecto do mundo
e à noite choram às luas
saudades varinas e horas lindas.
Sobre os brados da memória
correm sonhos em clave de sóis sós
sustidos com a força de dó...
andam sombras perdidas dos passos
são mulheres, outras meninas,
e todas são ninguém...
... um ninguém que magoa
ao sentir-se assim, entre silêncios
e esquecimentos,
como andarilhos velhacos
de todo o pensamento.
Bêbados sentidos
Eu bebi à farta
num dia apenas banal
que o diabo atiçou à loucura
e num pestanejar
anoiteceu a fúria e a raiva
até aos estilhaços do sangue
que o silêncio da voz guarda
em lençóis de angústia.
Amanheci sem alarido
havia um sol meigo em céu aberto.
Nada de novo na monotonia
uma líquida desconsolação
fustigava a memória
que não sentia.
Bebi de novo sem tréguas
o vinho das bruxarias
e transloucado adormeci
à sombra de um silêncio frio
como quem pariu um naufrágio
onde não havia mar!...
num dia apenas banal
que o diabo atiçou à loucura
e num pestanejar
anoiteceu a fúria e a raiva
até aos estilhaços do sangue
que o silêncio da voz guarda
em lençóis de angústia.
Amanheci sem alarido
havia um sol meigo em céu aberto.
Nada de novo na monotonia
uma líquida desconsolação
fustigava a memória
que não sentia.
Bebi de novo sem tréguas
o vinho das bruxarias
e transloucado adormeci
à sombra de um silêncio frio
como quem pariu um naufrágio
onde não havia mar!...
Choro
Queria chorar
o corpo pulsava, ardia
no olhar a dor gemia
e eu só queria chorar
uma malga de tristezas
e não tinha lágrimas para brotar
nem sal para as salgar
ou voz que as soubesse colorir
sem sentir o rosto húmido
com saudades do vazio que fica
depois do querer acabar.
o corpo pulsava, ardia
no olhar a dor gemia
e eu só queria chorar
uma malga de tristezas
e não tinha lágrimas para brotar
nem sal para as salgar
ou voz que as soubesse colorir
sem sentir o rosto húmido
com saudades do vazio que fica
depois do querer acabar.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
O mel do sonho
Cinco dias vivi luas
no rosto de uma mulher,
morena e doce silvestre
como o entardecer ao fim do sol
da sua companhia.
Cinco dias e mais cinco
foram dias sem parar
no entrudo do meu amor cadente
como a brisa dos beijos traquinas
que soprava dos limites do ar
- lá, onde o tempo se demora
perdido dos homens e do chão,
num namoro de horas imortais
que ninguém mais conhece senão eu,
alucinantes eram os voos a pique
sobre o carinho dos seus contornos,
e afundar os sentidos seduzidos
na plena garra dos ardores,
espalhar-me o corpo sobre a vida dela
e vivê-la tudo no mais fundo sentimento...
no mel do sonho!
no rosto de uma mulher,
morena e doce silvestre
como o entardecer ao fim do sol
da sua companhia.
Cinco dias e mais cinco
foram dias sem parar
no entrudo do meu amor cadente
como a brisa dos beijos traquinas
que soprava dos limites do ar
- lá, onde o tempo se demora
perdido dos homens e do chão,
num namoro de horas imortais
que ninguém mais conhece senão eu,
alucinantes eram os voos a pique
sobre o carinho dos seus contornos,
e afundar os sentidos seduzidos
na plena garra dos ardores,
espalhar-me o corpo sobre a vida dela
e vivê-la tudo no mais fundo sentimento...
no mel do sonho!
Apaixonados
Venerados, os apaixonados
gracejam pequenos quartos-minguantes
num céu de amores imenso e fundo
quase ravina, quase escarpa, quase nada
porém, um quase tudo a cada momento.
Contentes com o dia novo
os olhos brincam carinhos tontos
com a ponta da língua e a voz,
ausentes num apelo dos corpos
que em desejo desabrocham os sonhos
que a noite alberga pelos mais belos silêncios
que a vida pariu com mimos de mãe
e risos ao futuro,
para lá do horizonte...
gracejam pequenos quartos-minguantes
num céu de amores imenso e fundo
quase ravina, quase escarpa, quase nada
porém, um quase tudo a cada momento.
Contentes com o dia novo
os olhos brincam carinhos tontos
com a ponta da língua e a voz,
ausentes num apelo dos corpos
que em desejo desabrocham os sonhos
que a noite alberga pelos mais belos silêncios
que a vida pariu com mimos de mãe
e risos ao futuro,
para lá do horizonte...
Eras amor
O meu amor é louco
tem nervos de mulher
tem tudo e tão pouco
do que na vida se quer.
O meu amor é guerreiro
vestido com carinhos em seara
que duram o tempo inteiro
e da alma nada os separa.
O meu amor mora com a idade
num baile de idiomas gentios
com requintes de luminosidade
são sentimentos de todos os estios.
Ó meu coração, tu flamegas o olhar
inundas as ermas circunstâncias
quando aos pulos sinto-me amar
nos píncaros de todas as distâncias.
tem nervos de mulher
tem tudo e tão pouco
do que na vida se quer.
O meu amor é guerreiro
vestido com carinhos em seara
que duram o tempo inteiro
e da alma nada os separa.
O meu amor mora com a idade
num baile de idiomas gentios
com requintes de luminosidade
são sentimentos de todos os estios.
Ó meu coração, tu flamegas o olhar
inundas as ermas circunstâncias
quando aos pulos sinto-me amar
nos píncaros de todas as distâncias.
Grão de amor
Matreiro, um grãozinho de mulher
enganou-me o corpo,
com carícias no coração,
e sonhos no rosto,
urdiu o amor que era meu amigo
e cachopos fugiram de mim
para onde não sei.
Maroto... o grãozinho!
Ainda o lembro bem, o safado.
enganou-me o corpo,
com carícias no coração,
e sonhos no rosto,
urdiu o amor que era meu amigo
e cachopos fugiram de mim
para onde não sei.
Maroto... o grãozinho!
Ainda o lembro bem, o safado.
Búzio confidente
Seguro nas axilas
um búzio já velho,
amargurado,
numa maré pouco feliz.
Junto ao seu aconchego
outro búzio mais,
e num lamento
segredo-lhes murmúrios
coisas de nada.
Pouso-os no bordo do colo
absurda voz
e sonho.
Falamos de tudo,
de mim e de ti
... até de nós!
um búzio já velho,
amargurado,
numa maré pouco feliz.
Junto ao seu aconchego
outro búzio mais,
e num lamento
segredo-lhes murmúrios
coisas de nada.
Pouso-os no bordo do colo
absurda voz
e sonho.
Falamos de tudo,
de mim e de ti
... até de nós!
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Viagem que sou
Sou a viagem que sou
sei-o!
Mergulho as mãos
no absurdo.
…Rumo ao irreal,
Como barcos sem leme
Sulcando os mares de azul.
Sei que sou a viagem…
Degrau a degrau
subo as muralhas débeis
da palavra,
e do cume voarei
de braços abertos sobre
as praias de um lençol,
surdamente inspirado
em vezes de estranheza
e tímidos medos…
Sou uma viagem
sem retorno…
-regressos não há.
O fim não sei,
Mas o amor é o meu tempo!
sei-o!
Mergulho as mãos
no absurdo.
…Rumo ao irreal,
Como barcos sem leme
Sulcando os mares de azul.
Sei que sou a viagem…
Degrau a degrau
subo as muralhas débeis
da palavra,
e do cume voarei
de braços abertos sobre
as praias de um lençol,
surdamente inspirado
em vezes de estranheza
e tímidos medos…
Sou uma viagem
sem retorno…
-regressos não há.
O fim não sei,
Mas o amor é o meu tempo!
Amante do sonho
Lanço-me num esvoaçar
com o lume nos olhos triviais
e o peso dos dias assim.
Deslizo seguro ao vento
como ave pelo ar livre
e sinto aquela emoção doce
que tem o sabor da paz
dentro de nós,
no meio do mundo
e sono amante do sonho
onde todos os pássaros pousam
para aprender a voar
o destino que lhes coube em sorte!
com o lume nos olhos triviais
e o peso dos dias assim.
Deslizo seguro ao vento
como ave pelo ar livre
e sinto aquela emoção doce
que tem o sabor da paz
dentro de nós,
no meio do mundo
e sono amante do sonho
onde todos os pássaros pousam
para aprender a voar
o destino que lhes coube em sorte!
Calor ósseo
Anda amigo, corre as sombras
e vem plantar comigo
as memorias da utopia.
Anda…
soltaremos os filhos dos olhos
nos cumes dos ventos,
sonharemos o sentimento
e seremos os donos do espaço vazio
onde as almas albergam o sol!
Sorriremos, enfim!
…E o tempo sempre a crescer
na ausência do momento banal
em que não sabemos se somos gente
ou apenas uma forma de medo quente
-calor ósseo, pensamento…
e vem plantar comigo
as memorias da utopia.
Anda…
soltaremos os filhos dos olhos
nos cumes dos ventos,
sonharemos o sentimento
e seremos os donos do espaço vazio
onde as almas albergam o sol!
Sorriremos, enfim!
…E o tempo sempre a crescer
na ausência do momento banal
em que não sabemos se somos gente
ou apenas uma forma de medo quente
-calor ósseo, pensamento…
Quero-te
Ainda que ausente
e sem regresso de mim,
quero-te muito
porque o coração vislumbra por ti
um amor que não se desencanta
só porque o tempo aborta
e a vida se farta da paixão…
…e no que fica de nós, amantes
quero que sejas desmedidamente feliz
algures onde te desejes
adivinhar a vida.
embora aquém desse lugar
eu terei sempre distinta a lembrança
com saudade de amor,
(hoje, ardente e vivo
amanhã mais amigo)
Ao olhar no céu o brilho do sol
- é que também tu,
foste um sol da minha quimera
e se o adeus que nos hidrolisa
os sentimentos,
alveja-me de sofrimento,
também o sorrio
por tolerante me teres ensinado a amar.
Ainda que nada se apague
de forma alguma,
é na lealdade para comigo
dizer-te o muito que te devo,
quero-te a de todas, a mais feliz!
Amo-te muito!
e sem regresso de mim,
quero-te muito
porque o coração vislumbra por ti
um amor que não se desencanta
só porque o tempo aborta
e a vida se farta da paixão…
…e no que fica de nós, amantes
quero que sejas desmedidamente feliz
algures onde te desejes
adivinhar a vida.
embora aquém desse lugar
eu terei sempre distinta a lembrança
com saudade de amor,
(hoje, ardente e vivo
amanhã mais amigo)
Ao olhar no céu o brilho do sol
- é que também tu,
foste um sol da minha quimera
e se o adeus que nos hidrolisa
os sentimentos,
alveja-me de sofrimento,
também o sorrio
por tolerante me teres ensinado a amar.
Ainda que nada se apague
de forma alguma,
é na lealdade para comigo
dizer-te o muito que te devo,
quero-te a de todas, a mais feliz!
Amo-te muito!
Proscrito
O mar entra-me pelos olhos
como verdades calcetadas de sal
dúvidas e magoas.
Um grande vazio engole o corpo
por inteiro, a praia e os peixes
e às vezes , nas estrelinhas do momento
quase me sinto feliz…
Como oásis no desejo
a ilusão demora um gesto,
o riso que o coração grita
é somente o silêncio velhaco da tristeza.
Medonho, o espaço mingua alucinações
nas vértebras do pensamento vazado
pelas mãos do mar e da sombra
com vontades marujas de partir
em busca do horizonte…
-por pirraça os barcos passam na foz
dos olhos húmidos de inquietação,
passam longe demais para o agarrar,
nem o mar, nem os barcos
nem os sonhos que deixam esculpidos
nas águas da minha solidão!...
como verdades calcetadas de sal
dúvidas e magoas.
Um grande vazio engole o corpo
por inteiro, a praia e os peixes
e às vezes , nas estrelinhas do momento
quase me sinto feliz…
Como oásis no desejo
a ilusão demora um gesto,
o riso que o coração grita
é somente o silêncio velhaco da tristeza.
Medonho, o espaço mingua alucinações
nas vértebras do pensamento vazado
pelas mãos do mar e da sombra
com vontades marujas de partir
em busca do horizonte…
-por pirraça os barcos passam na foz
dos olhos húmidos de inquietação,
passam longe demais para o agarrar,
nem o mar, nem os barcos
nem os sonhos que deixam esculpidos
nas águas da minha solidão!...
Matemática de emoções
Subtrai-me
que eu adiciono-te
com beijos fecundos
e alma boa,
com gesto meigo
de quem não te esquece.
Divide-me
que eu transbordo-te
entre carinhos ternos afagos,
devoro-te nua e singela
e no desarvorar da manhã
dou-te um beijo
e digo-te
“até logo querida”.
Eleva-me ao expoente
e eu valho por dois
valho por mim e por ti,
e por nós os dois teremos a matemática
no âmago dos sentidos
…saberás que eu e tu
não somos dois
mas um único olhar futuro!
que eu adiciono-te
com beijos fecundos
e alma boa,
com gesto meigo
de quem não te esquece.
Divide-me
que eu transbordo-te
entre carinhos ternos afagos,
devoro-te nua e singela
e no desarvorar da manhã
dou-te um beijo
e digo-te
“até logo querida”.
Eleva-me ao expoente
e eu valho por dois
valho por mim e por ti,
e por nós os dois teremos a matemática
no âmago dos sentidos
…saberás que eu e tu
não somos dois
mas um único olhar futuro!
Equações do tempo
Somo ao hoje
o ontem da memória
somo cada ontem ido
a cada anteontem
faço-o todos os dias
para que os olhos tenham
o prazer de se verem vivos!...
E a soma dos dias
faz envelhecer,
amadurecer a fruta do pensador
adoece as almas
que apodrecem na inquietação
dos anos atempados
das grandes dúvidas
fora do claustro do sangue
gritantes corpos na soma
da vida somada em álgebras do coração
emocionado sentimento…
o ontem da memória
somo cada ontem ido
a cada anteontem
faço-o todos os dias
para que os olhos tenham
o prazer de se verem vivos!...
E a soma dos dias
faz envelhecer,
amadurecer a fruta do pensador
adoece as almas
que apodrecem na inquietação
dos anos atempados
das grandes dúvidas
fora do claustro do sangue
gritantes corpos na soma
da vida somada em álgebras do coração
emocionado sentimento…
Sonhos
O sonho ilumina
é brincadeira dócil do tempo
é o tempo inteiro de uma vida
uma ventania que alivia
outra mágoa que se sente
no revés do dia
pleno e ausente, quente
o ópio do pensamento
que a noite aclama
e o sol acalenta, nu
com o sonho na voz
e os olhos no poente do momento!
Sonhos são lufadas de força
que dão garra à vida
e se lançam à dor, lutam ousados
no calor do silêncio,
em forma de desejos vazios
entre sonos e fantasias
com o coração bêbado de cores,
numa memória que clama voraz
o que sente
nem nunca esquece
por mais que queira e tente!...
é brincadeira dócil do tempo
é o tempo inteiro de uma vida
uma ventania que alivia
outra mágoa que se sente
no revés do dia
pleno e ausente, quente
o ópio do pensamento
que a noite aclama
e o sol acalenta, nu
com o sonho na voz
e os olhos no poente do momento!
Sonhos são lufadas de força
que dão garra à vida
e se lançam à dor, lutam ousados
no calor do silêncio,
em forma de desejos vazios
entre sonos e fantasias
com o coração bêbado de cores,
numa memória que clama voraz
o que sente
nem nunca esquece
por mais que queira e tente!...
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Desertificação
Não há homens nos campos
e os desertos ardem
na própria secura dos ossos.
As terras estão lavradas a sangue
por sulcos movediços
em que os animais se perdem
do tempo.
A paisagem é o verde sofrimento
da carne,
a mágoa confunde-se
na medula do horizonte
e as flores latem seus despojos
entre as cartilagens
de um ângulo
roubado num único lamento.
Não há pastores nos montes
e os anjos já não cantam
o lume dos olhos.
E quando o outono finda
os homens hibernam com as aves,
em bandos de poetas clandestinos.
A primavera trá-los-á de novo,
nos primeiros abraços de luz,
e o amanhã é um motim
na fé dos mais pobres.
... Longe da voz,
a ângustia curva de um vento
que chora de mão em mão,
de silêncio em silêncio.
e os desertos ardem
na própria secura dos ossos.
As terras estão lavradas a sangue
por sulcos movediços
em que os animais se perdem
do tempo.
A paisagem é o verde sofrimento
da carne,
a mágoa confunde-se
na medula do horizonte
e as flores latem seus despojos
entre as cartilagens
de um ângulo
roubado num único lamento.
Não há pastores nos montes
e os anjos já não cantam
o lume dos olhos.
E quando o outono finda
os homens hibernam com as aves,
em bandos de poetas clandestinos.
A primavera trá-los-á de novo,
nos primeiros abraços de luz,
e o amanhã é um motim
na fé dos mais pobres.
... Longe da voz,
a ângustia curva de um vento
que chora de mão em mão,
de silêncio em silêncio.
Eras amor
Eras uma borboleta e eu perseguia-te
nas traseiras do teu tempo
ateado de distâncias e crespúsculo.
Eras um bicho perdido, indefeso
e eu era um caminho de dias vendidos
por um punhado de sentidos enganados.
Eras uma vírgula pequenina
que eu punha à frente das
minhas palavras, emoções!
Eras um sonho em violento
com quem dormia a transparência do olhar.
nas traseiras do teu tempo
ateado de distâncias e crespúsculo.
Eras um bicho perdido, indefeso
e eu era um caminho de dias vendidos
por um punhado de sentidos enganados.
Eras uma vírgula pequenina
que eu punha à frente das
minhas palavras, emoções!
Eras um sonho em violento
com quem dormia a transparência do olhar.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Sarcasmo
Sem esboço nem palavras
a humilhação olhou fria e funda
o riso do sarcasmo vaidoso e pobre
como se num lapso do instante feroz
o pensamento fosse castigo e dó,
clemência e ódio,
num grito baixinho
que a ninguém perturba
senão ao pensador ferido
que sem querer,
perdoa mas não esquece.
a humilhação olhou fria e funda
o riso do sarcasmo vaidoso e pobre
como se num lapso do instante feroz
o pensamento fosse castigo e dó,
clemência e ódio,
num grito baixinho
que a ninguém perturba
senão ao pensador ferido
que sem querer,
perdoa mas não esquece.
Carta a um irmão distante
Irmão
... a mãe morreu
no bolor do silêncio
que trazia nos olhos.
Arrancada à vida
devolvi-a à terra
com lágrimas por dentro.
Nas traseiras do quintal
calcetei-lhe o sono
com flores de luz que duram muito
e sabem poemas de cor...
Rezei o terço à minha maneira
com palavras inventadas do luto
que me mordiscava a voz.
Fiquei ao lado dela
até a sentir aninhar-se
nas formas do chão.
Falei-lhe de ti, desse tempo
inconstante
- o pior da morte é a morte não ter voz
e teimar em ficar calada por muito tempo!
A mãe morreu natural.
Já nada me prende aqui.
A herança é pobre demais,
fica com ela que eu parto agora
à procura de melhor sorte.
... a mãe morreu
no bolor do silêncio
que trazia nos olhos.
Arrancada à vida
devolvi-a à terra
com lágrimas por dentro.
Nas traseiras do quintal
calcetei-lhe o sono
com flores de luz que duram muito
e sabem poemas de cor...
Rezei o terço à minha maneira
com palavras inventadas do luto
que me mordiscava a voz.
Fiquei ao lado dela
até a sentir aninhar-se
nas formas do chão.
Falei-lhe de ti, desse tempo
inconstante
- o pior da morte é a morte não ter voz
e teimar em ficar calada por muito tempo!
A mãe morreu natural.
Já nada me prende aqui.
A herança é pobre demais,
fica com ela que eu parto agora
à procura de melhor sorte.
Ventanias
As brisas dão no meu moinho
ora mansas, ora raivas
ou se se dão com mais vileza
não são brisas no meu moinho,
são ventanias de pai bêbado
sovando as razões do desgosto
que embebem as horas esquecidas...
as brisas giram no pano das pás
depois das revelias... na roda da mó
a fraqueza dos gritos amanhece
branca como a farinha
que um moleiro ventoso o é,
e todos os dias no fim do sono da noite
o sol bate na cal do meu moinho
aguarela vermelha na brisa das pás do vento
enquanto espero as ventanias.
ora mansas, ora raivas
ou se se dão com mais vileza
não são brisas no meu moinho,
são ventanias de pai bêbado
sovando as razões do desgosto
que embebem as horas esquecidas...
as brisas giram no pano das pás
depois das revelias... na roda da mó
a fraqueza dos gritos amanhece
branca como a farinha
que um moleiro ventoso o é,
e todos os dias no fim do sono da noite
o sol bate na cal do meu moinho
aguarela vermelha na brisa das pás do vento
enquanto espero as ventanias.
sábado, 31 de outubro de 2009
Como escrever-te
Como escrever o teu nome
na água dos meus poemas
sem levar à boca
algum ramo do teu sabor.
Como escrever de ti
no pó dos corações
se pelos teus olhos
andam os meus enamorados.
A noite,
ainda menina no meu colo
é um fio de versos
que as horas levam e trazem
sem que o breu me detenha,
nem o silêncio incomode
os momentos sós em que te penso
sentado num chão de muitas emoções.
Não há rio que quebre o mar
nem ondas que neguem às praias
as suas marés de pedra e ecos.
E na poeira dos dias que me sobram
tenho pressa em viver os mimos teus
e sentir sobre o corpo deitado
a mulher que em ti pesa,
como um vendaval de amores
que se soltam dóceis
num sangue a nós doado manso
e vontades de não mais acordar.
na água dos meus poemas
sem levar à boca
algum ramo do teu sabor.
Como escrever de ti
no pó dos corações
se pelos teus olhos
andam os meus enamorados.
A noite,
ainda menina no meu colo
é um fio de versos
que as horas levam e trazem
sem que o breu me detenha,
nem o silêncio incomode
os momentos sós em que te penso
sentado num chão de muitas emoções.
Não há rio que quebre o mar
nem ondas que neguem às praias
as suas marés de pedra e ecos.
E na poeira dos dias que me sobram
tenho pressa em viver os mimos teus
e sentir sobre o corpo deitado
a mulher que em ti pesa,
como um vendaval de amores
que se soltam dóceis
num sangue a nós doado manso
e vontades de não mais acordar.
Nas tuas pernas
Nas tuas pernas
as minhas culpas morrem
nas tuas pernas minhas nunca.
Na tua boca o meu sonho
no meu sonho as tuas pernas,
nas tuas pernas o meu fôlego
e a noite passa num rasgo teu
em mim, desejo vivaz e traquino
nas tuas pernas,
a minha doidice!...
as minhas culpas morrem
nas tuas pernas minhas nunca.
Na tua boca o meu sonho
no meu sonho as tuas pernas,
nas tuas pernas o meu fôlego
e a noite passa num rasgo teu
em mim, desejo vivaz e traquino
nas tuas pernas,
a minha doidice!...
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Confissão
Os meus olhos
confessam nos teus
o atiçado lume dos seus erros
num tempo gordo de desenganos
e tramas de agoiro
que enchem de dramas
as distâncias da vida.
Ao voltarem ao teu corpo,
os meus olhos quase coram desilusão
na vergonha que sentem apunhalá-los
por não saberem fazer os teus felizes...
... a língua empurra-os na voz
que ninguém mais ouve
e vontades de nunca deixar partir os teus
nessas teias de encruzilhadas longas
em que os meus olhos mirram
o medo de muito amar os teus.
confessam nos teus
o atiçado lume dos seus erros
num tempo gordo de desenganos
e tramas de agoiro
que enchem de dramas
as distâncias da vida.
Ao voltarem ao teu corpo,
os meus olhos quase coram desilusão
na vergonha que sentem apunhalá-los
por não saberem fazer os teus felizes...
... a língua empurra-os na voz
que ninguém mais ouve
e vontades de nunca deixar partir os teus
nessas teias de encruzilhadas longas
em que os meus olhos mirram
o medo de muito amar os teus.
Partida
E foi então que os meus olhos viram
partir os pássaros em manada
céu inteiro, searas de amor
- a terra a prumo
nos lábios possuídos de fogo,
um mar arrojado, alucinante
como rumores a morder a memória
onde os teus olhos cochilam
as fragas da noite.
Não tens saudades roxas
dos pássaros apaixonados
no Outono das formas
- moribundas solidões
na apoteose dos dias,
dos gritos
ao encontro do luar?
partir os pássaros em manada
céu inteiro, searas de amor
- a terra a prumo
nos lábios possuídos de fogo,
um mar arrojado, alucinante
como rumores a morder a memória
onde os teus olhos cochilam
as fragas da noite.
Não tens saudades roxas
dos pássaros apaixonados
no Outono das formas
- moribundas solidões
na apoteose dos dias,
dos gritos
ao encontro do luar?
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Sempre teu
Eu hei-de ser sempre teu
tu hás-de ser sempre minha
mesmo que não mais me queiras amar
mesmo que me queiras esquecer
- é que a flor pertence à terra
mesmo depois de morrer
e eu sei que jardim sou em ti
mesmo que não queiras saber!
tu hás-de ser sempre minha
mesmo que não mais me queiras amar
mesmo que me queiras esquecer
- é que a flor pertence à terra
mesmo depois de morrer
e eu sei que jardim sou em ti
mesmo que não queiras saber!
Mil coisas
Em mil tardes
mil noites sem pagem
mil auroras de balidos,
mil pastores em mil montes
uivam com os rebanhos
as mil luas de lobos sem fome
que o capim mastiga
no alarme das mil dores do tempo.
Mil esfomeados chacais
em mil ramos pousados
esfrangalham os mil cães da vida
no milhar das encostas
fixas ao tacto do medo
... nas estepes andam mil mortes
no endereço de mil nomes.
E em mil planícies
mil luas cobiçadas
por mil olhares do sangue,
sob mil pragas do gesto
e bocas sem confissão
de mil gente sem sorte,
por entre mil rios quebradiços,
mil solidões voando em tapetes de sono
e mil sonhos por socorrer
ou milhões de mil coisas...
mil noites sem pagem
mil auroras de balidos,
mil pastores em mil montes
uivam com os rebanhos
as mil luas de lobos sem fome
que o capim mastiga
no alarme das mil dores do tempo.
Mil esfomeados chacais
em mil ramos pousados
esfrangalham os mil cães da vida
no milhar das encostas
fixas ao tacto do medo
... nas estepes andam mil mortes
no endereço de mil nomes.
E em mil planícies
mil luas cobiçadas
por mil olhares do sangue,
sob mil pragas do gesto
e bocas sem confissão
de mil gente sem sorte,
por entre mil rios quebradiços,
mil solidões voando em tapetes de sono
e mil sonhos por socorrer
ou milhões de mil coisas...
Pescador
A oeste da vida fácil
um pescador de inquietudes
deita as redes ao luar
com os olhos cantarolando destinos
e o pensamento cansado nos braços.
Só e alvoraçado pela calmaria
vai assobiando as velhas poesias
que o medo lhe ensinou desde menino
enquanto nas águas o tempo voa
como marés aladas na sua voz,
acometidas de ânsias que desconsolam
as horas mais coloridas do coração,
desnudam os sentimentos mais vivos
e todos os momentos lindos do sonhador.
A léguas, aquém de todos os outros
um pescador de solidões cruas
recolhe as redes do dia na noite
com as forças que à alma restam
pelo epílogo do silêncio sem coito
onde os desejo jazem sovados pelo acaso
e os homens vagabundam as sombras
já bêbadas de rum e memórias em fogo
latejados de tristeza amarga!
um pescador de inquietudes
deita as redes ao luar
com os olhos cantarolando destinos
e o pensamento cansado nos braços.
Só e alvoraçado pela calmaria
vai assobiando as velhas poesias
que o medo lhe ensinou desde menino
enquanto nas águas o tempo voa
como marés aladas na sua voz,
acometidas de ânsias que desconsolam
as horas mais coloridas do coração,
desnudam os sentimentos mais vivos
e todos os momentos lindos do sonhador.
A léguas, aquém de todos os outros
um pescador de solidões cruas
recolhe as redes do dia na noite
com as forças que à alma restam
pelo epílogo do silêncio sem coito
onde os desejo jazem sovados pelo acaso
e os homens vagabundam as sombras
já bêbadas de rum e memórias em fogo
latejados de tristeza amarga!
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Espera em vão
De joelhos em frente ao oceano
um jovem lança fermento às águas
para que o seu sonho cresça
antes do tempo,
num movimento desconfiado.
Com as mãos sujas de medo
cava um lugar para esperar,
com o coração derramado
naquele mar à sua frente,
e o jovem fez-se velho, serenamente
sem ver a maré parir
o fermento da sua esperança.
Embrulhado na morte,
as águas levam-no vida fora.
um jovem lança fermento às águas
para que o seu sonho cresça
antes do tempo,
num movimento desconfiado.
Com as mãos sujas de medo
cava um lugar para esperar,
com o coração derramado
naquele mar à sua frente,
e o jovem fez-se velho, serenamente
sem ver a maré parir
o fermento da sua esperança.
Embrulhado na morte,
as águas levam-no vida fora.
Já notaste
Não sei se já notaste
no alvoroço do meu olhar
quando passas e em mim roças
o corpo e o destino,
e eu fico perdido a cismar
sempre que passas
à minha beira, juntinho.
no alvoroço do meu olhar
quando passas e em mim roças
o corpo e o destino,
e eu fico perdido a cismar
sempre que passas
à minha beira, juntinho.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Cio do acasalamento
Andam ventos à procura
de ventanias,
andam doidos, pulam e furam
em formas sombrias
- praguejam eriçados
na altivez das horas fúteis,
uns pouco amados,
outros sopros inúteis...
Andam luas atrofiadas
pelo cheiro fêmeo do vazio,
e de uma mera noite
pairam noitadas
para a ganância do cio
... lavram os chãos
com as águas dos poetas
levam rios nas mãos
rios que só o mar veste.
Andam bocejos ao deus-dará
em busca de uma rima acertada,
uma rima que só o tempo fará
cada vez mais amada!
de ventanias,
andam doidos, pulam e furam
em formas sombrias
- praguejam eriçados
na altivez das horas fúteis,
uns pouco amados,
outros sopros inúteis...
Andam luas atrofiadas
pelo cheiro fêmeo do vazio,
e de uma mera noite
pairam noitadas
para a ganância do cio
... lavram os chãos
com as águas dos poetas
levam rios nas mãos
rios que só o mar veste.
Andam bocejos ao deus-dará
em busca de uma rima acertada,
uma rima que só o tempo fará
cada vez mais amada!
domingo, 4 de outubro de 2009
Desejo em clave de sol
Vem! Multicolor
toca-me nua, fêmea
rasga-me a vulgaridade
com tridentes de sedução, marinhos
e entre nesgas de indecência
abraça-me o corpo de auroras híbridas
com os ventos da paixão desvairada
que o meu coração namora em surdina
o outro lado do momento que tudo chora,
lavado pelo amanhecer da vida
que mimo e quero
e não me pertence.
toca-me nua, fêmea
rasga-me a vulgaridade
com tridentes de sedução, marinhos
e entre nesgas de indecência
abraça-me o corpo de auroras híbridas
com os ventos da paixão desvairada
que o meu coração namora em surdina
o outro lado do momento que tudo chora,
lavado pelo amanhecer da vida
que mimo e quero
e não me pertence.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Jardim de aromas
Os jasmins juntam-se pela manhã
os lírios amuam o sangue
as dálias mais as rosas
troteiam maldizeres vizinhos
à porta dos verves cravos curiosos...
os malmequeres, levianos, fazem troça
enquanto fingem olhar a beleza dos muros.
Rasteiras, as ervas arejam o corpo
nos véus das flores viúvas.
Coberto de céu,
é uma manhã tardia
de um jardim zangado com o dia.
os lírios amuam o sangue
as dálias mais as rosas
troteiam maldizeres vizinhos
à porta dos verves cravos curiosos...
os malmequeres, levianos, fazem troça
enquanto fingem olhar a beleza dos muros.
Rasteiras, as ervas arejam o corpo
nos véus das flores viúvas.
Coberto de céu,
é uma manhã tardia
de um jardim zangado com o dia.
sábado, 26 de setembro de 2009
Se não te pretenço
Se já não sou teu pagem
amante e saltibanco das tuas noites
tão ávidas de mimo,
se nem tão pouco me pertences
em qualquer lugar da vida
e nada somos em sentimento nenhum,
então porque não me dás alforria?
amante e saltibanco das tuas noites
tão ávidas de mimo,
se nem tão pouco me pertences
em qualquer lugar da vida
e nada somos em sentimento nenhum,
então porque não me dás alforria?
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Em busca de mim
Procurei a vida
nas vielas de um tempo manso
e sem sucesso urdi os dias
até ver o céu cair-me aos pés,
nas matizes viúvas da alma
entre vendavais da carne óssea,
no peito do chão.
Fatigado do marasmo
sentei os olhos à soalheira
e resgatei o sonho mais doce
que a lembrança volvia
enquanto o coração ardia gemidos
em romarias de dor oculta
que só gente assim sofre!
nas vielas de um tempo manso
e sem sucesso urdi os dias
até ver o céu cair-me aos pés,
nas matizes viúvas da alma
entre vendavais da carne óssea,
no peito do chão.
Fatigado do marasmo
sentei os olhos à soalheira
e resgatei o sonho mais doce
que a lembrança volvia
enquanto o coração ardia gemidos
em romarias de dor oculta
que só gente assim sofre!
sábado, 19 de setembro de 2009
Junto ao mar
Se me vires junto ao mar
sentado num olhar que se adensa e foge
não temas a queda, tragédia
apenas espero aquela alma maruja
que no mar deixei ficar à deriva.
Se me vires chorar no seu fragor
não fervilhes medos, receios
que o mar ouve as dores, lamentos
entende as vidas que sussurram,
miragens e falácias, frios
tempestades ou calmarias…
Se vires o mar estatelar-se no rosto
com silêncios e desejos pilhados no tempo
não estranhes teu semblante
porque o mar é um velho amigo
nas hordas da minha paixão.
Mas se um dia o mar me trair
pelo perpetuar da memória,
vem à praia molhar os lábios
sentirás os meus beijos de sal
no marulhar das ondas aos risos,
e saberás o que o mar à muito sabe
… que te amo muito
sentado num olhar que se adensa e foge
não temas a queda, tragédia
apenas espero aquela alma maruja
que no mar deixei ficar à deriva.
Se me vires chorar no seu fragor
não fervilhes medos, receios
que o mar ouve as dores, lamentos
entende as vidas que sussurram,
miragens e falácias, frios
tempestades ou calmarias…
Se vires o mar estatelar-se no rosto
com silêncios e desejos pilhados no tempo
não estranhes teu semblante
porque o mar é um velho amigo
nas hordas da minha paixão.
Mas se um dia o mar me trair
pelo perpetuar da memória,
vem à praia molhar os lábios
sentirás os meus beijos de sal
no marulhar das ondas aos risos,
e saberás o que o mar à muito sabe
… que te amo muito
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Fuga à morte
Sem disfarçar as escuridões
aos passos,
a morte entrou sem bater
em casa do vizinho.
Fingiu que não me via
espiá-la no rebordo da vidraça,
e sorria...
e os sorrisos eram como promessas
de presságios sem bênção.
Sem esperar o epílogo ao romance
fiz as malas e fugi pelas léguas
de qualquer rumo.
... Pelo caminho esqueci o nome.
aos passos,
a morte entrou sem bater
em casa do vizinho.
Fingiu que não me via
espiá-la no rebordo da vidraça,
e sorria...
e os sorrisos eram como promessas
de presságios sem bênção.
Sem esperar o epílogo ao romance
fiz as malas e fugi pelas léguas
de qualquer rumo.
... Pelo caminho esqueci o nome.
domingo, 13 de setembro de 2009
Matizes de um momento escuro
Não me contenho e sofro
diariamente,
um mundo diferente, doente
onde a dor também é gente
e o tempo uma navalha
um medo, torpor
o evidente era dilema
e o sonho uma soberba poesia,
num mar de desalentos
e eu só me lamento
ou choro as horas, utopias
como quem enviuva de paixão.
Deboto, perco a graça
e morro por dentro
no mais louco silêncio
uma fúria sem fim
em forma de veneno, ardil
um buraco no ar, alucinante
gritando por mim, assim mesmo
tal qual vos conto e digo
... pensamentos são amantes
formas cegas de padecer permente,
que no auge da voz se atiça ao ausente
e mente o olhar perdido de tormentos
com uma mão afogando o vento
e a outra singrando no covil do alvorecer.
Ressonam os instintos dentro dos ossos
algures nas vidas manhosas,
e os carinhos, ternuras tontas
de beijos e volúpias, feitiçarias
deixam saudades dos bosques de amor
para sempre à soleira dos meus olhos pretos
como a escuridão do destino
a brincar perto de mim, quase tocando.
... por um triz ser a morte.
diariamente,
um mundo diferente, doente
onde a dor também é gente
e o tempo uma navalha
um medo, torpor
o evidente era dilema
e o sonho uma soberba poesia,
num mar de desalentos
e eu só me lamento
ou choro as horas, utopias
como quem enviuva de paixão.
Deboto, perco a graça
e morro por dentro
no mais louco silêncio
uma fúria sem fim
em forma de veneno, ardil
um buraco no ar, alucinante
gritando por mim, assim mesmo
tal qual vos conto e digo
... pensamentos são amantes
formas cegas de padecer permente,
que no auge da voz se atiça ao ausente
e mente o olhar perdido de tormentos
com uma mão afogando o vento
e a outra singrando no covil do alvorecer.
Ressonam os instintos dentro dos ossos
algures nas vidas manhosas,
e os carinhos, ternuras tontas
de beijos e volúpias, feitiçarias
deixam saudades dos bosques de amor
para sempre à soleira dos meus olhos pretos
como a escuridão do destino
a brincar perto de mim, quase tocando.
... por um triz ser a morte.
Palavras perdidas
Perderam-se as palavras
no leito das origens
que o mar traz seguro,
e perdi-me com elas
no vasto espaço
das minhas ideias.
... perderam-se!
Esquecidas na melopeia
das frases pobres,
incabadas,
subindo em mim
plenas de confusas.
Coitadas.
Deliram na voz,
na exactidão do silêncio
de meus íntimos vícios,
ímpares...
Cépticas palavras
que atropelam sem rumo
a acidez da minha harmonia.
no leito das origens
que o mar traz seguro,
e perdi-me com elas
no vasto espaço
das minhas ideias.
... perderam-se!
Esquecidas na melopeia
das frases pobres,
incabadas,
subindo em mim
plenas de confusas.
Coitadas.
Deliram na voz,
na exactidão do silêncio
de meus íntimos vícios,
ímpares...
Cépticas palavras
que atropelam sem rumo
a acidez da minha harmonia.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Tudo à pressa
Cheguei à pressa
com a pressa de chegar
e partir, veloz
porém antes escrever
um poema para ti...
e escrevi,
depois parti
à pressa,
como vim...
com a pressa de chegar
e partir, veloz
porém antes escrever
um poema para ti...
e escrevi,
depois parti
à pressa,
como vim...
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Hoje
Hoje queria ver-te
falar contigo, de ti
marulhar nas emoções
e tocar as têmporas do desejo,
com parelhas de mimos
alados a noite inteira.
Queria prender-te aos olhos,
fundir o carinho dos silêncios
com a paixão da alma
esfaimados pelo amor imerso,
com o brilho da vida
a sibilar no abraço da voz.
falar contigo, de ti
marulhar nas emoções
e tocar as têmporas do desejo,
com parelhas de mimos
alados a noite inteira.
Queria prender-te aos olhos,
fundir o carinho dos silêncios
com a paixão da alma
esfaimados pelo amor imerso,
com o brilho da vida
a sibilar no abraço da voz.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Não me ergo, levanto-me
Eu não me ergo, levanto-me
quem se ergue sempre caiu
e eu puxo por mim,
agarrado ao desejo férreo
de me ver elevado
por cima das vicissitudes
e à margem da agonia,
caçando alívios e suspiros
de uma estirpe sem raça.
Eu não me ergo, renasço
resgatado de um passado verve
não me estranho, nem entranho
bebo a sede de viver, indígena
não quero desperdiço nem fúteis cores,
amorfas audácias, mordaças
quando me despertar para o amanhã
que me adorna o olhar…
… no capim do dia seguinte.
Eu não me ergo, levanto-me
quem se ergue não caiu, ruiu
e eu levanto-me, persigo-me e expio-me
até encontrar o sossego que me adensa e foge…
quem se ergue sempre caiu
e eu puxo por mim,
agarrado ao desejo férreo
de me ver elevado
por cima das vicissitudes
e à margem da agonia,
caçando alívios e suspiros
de uma estirpe sem raça.
Eu não me ergo, renasço
resgatado de um passado verve
não me estranho, nem entranho
bebo a sede de viver, indígena
não quero desperdiço nem fúteis cores,
amorfas audácias, mordaças
quando me despertar para o amanhã
que me adorna o olhar…
… no capim do dia seguinte.
Eu não me ergo, levanto-me
quem se ergue não caiu, ruiu
e eu levanto-me, persigo-me e expio-me
até encontrar o sossego que me adensa e foge…
domingo, 9 de agosto de 2009
Guardião
Repousa o teu corpo
no vício dos passos,
sossega o sangue nervoso
dessa existência fértil de medos, breus
e acalenta na ideia voraz do rosto
a fugaz primavera de um sonho lindo
que vento algum desalinha
venha a tormenta que venha
dos quatro céus endiabrados...
Dorme.
Penteia o sono com os dedos
ainda húmidos de amores degolados,
livres de enganos e enganados,
num atlântico de esguios beijos suados.
Dorme! Sem alvoroço,
no topo do burgo...
Lá fora o mundo regateia sombras distantes
num desacato de dores lúbricas, anónimas
enquanto no tecto da vida
as verdades são sombras sumptuosas,
nubladas de inquietações,
sinistras nocturnas,
no zelo das ocasiões... tropelias.
Dorme. Nada temas do doravante,
pousa o pensamento exausto de fugir,
não sabe de quê, despojado...
não sabe para onde, sonâmbulo...
como tudo na vida.
Dorme.
Hoje eu sou pastor e cão de caça
pelas eiras muradas da intranquilidade
onde só os lobos dormem
seja qual for a hora e o desejo!
no vício dos passos,
sossega o sangue nervoso
dessa existência fértil de medos, breus
e acalenta na ideia voraz do rosto
a fugaz primavera de um sonho lindo
que vento algum desalinha
venha a tormenta que venha
dos quatro céus endiabrados...
Dorme.
Penteia o sono com os dedos
ainda húmidos de amores degolados,
livres de enganos e enganados,
num atlântico de esguios beijos suados.
Dorme! Sem alvoroço,
no topo do burgo...
Lá fora o mundo regateia sombras distantes
num desacato de dores lúbricas, anónimas
enquanto no tecto da vida
as verdades são sombras sumptuosas,
nubladas de inquietações,
sinistras nocturnas,
no zelo das ocasiões... tropelias.
Dorme. Nada temas do doravante,
pousa o pensamento exausto de fugir,
não sabe de quê, despojado...
não sabe para onde, sonâmbulo...
como tudo na vida.
Dorme.
Hoje eu sou pastor e cão de caça
pelas eiras muradas da intranquilidade
onde só os lobos dormem
seja qual for a hora e o desejo!
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Búzio confidente
Seguro nas axilas
um búzio já velho,
amargurado,
numa maré pouco feliz.
Junto ao seu aconchego
outro búzio mais,
e num lamento
segredo-lhes murmúrios
coisas de nada.
Pouso-os no bordo do colo
absurda voz
e sonho.
Falamos de tudo,
de mim e de ti
... até de nós!
um búzio já velho,
amargurado,
numa maré pouco feliz.
Junto ao seu aconchego
outro búzio mais,
e num lamento
segredo-lhes murmúrios
coisas de nada.
Pouso-os no bordo do colo
absurda voz
e sonho.
Falamos de tudo,
de mim e de ti
... até de nós!
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Destino
Em menino fiz meninices,
Diabruras
E a navegar marés-cheias
Fui escutando o desalinho da dor
- calado e quedo
no postigo da idade,
até ao dia em que parti
com o meu tempo selvagem
e as fantasias por domar.
… partir à procura de alguma coisa
que aqui não sei encontrar.
Por quem me tomas
Ó destino, cruel sátira
Se o teu destino, destino
Tenho-o eu na minha mão
Pátria!
Diabruras
E a navegar marés-cheias
Fui escutando o desalinho da dor
- calado e quedo
no postigo da idade,
até ao dia em que parti
com o meu tempo selvagem
e as fantasias por domar.
… partir à procura de alguma coisa
que aqui não sei encontrar.
Por quem me tomas
Ó destino, cruel sátira
Se o teu destino, destino
Tenho-o eu na minha mão
Pátria!
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Não te esqueço
Eu não sei porque não te esqueço
mais do que algumas horas do dia,
um meio-dia apenas no ciciar da distância
que seca o desejo enamorado na boca
e com o tempo cura a saudade
como quem lava das mãos um vício doce
com os odores carinhosos de um perfume
alegre e irrequieto, reactivo
que faz baba nos olhos loucos por ti.
De mãos estendidas
não sei se te mendigo ou regateio
nem se te enrolo nua no meu refúgio
e unidos por penachos de amor,
dar aos destinos a verdade, insubmissa
na firme certeza de acordarmos ilesos
pejados de beijos e dias velozes.
Eu não sei porque não te tiro do sono
quando me esqueço e durmo
de sobrolho na vigília das cores,
mas sei que as plantas e as aves na rua
farfalham entre si as tropelias do desejo
com o olhar ornado de vida.
mais do que algumas horas do dia,
um meio-dia apenas no ciciar da distância
que seca o desejo enamorado na boca
e com o tempo cura a saudade
como quem lava das mãos um vício doce
com os odores carinhosos de um perfume
alegre e irrequieto, reactivo
que faz baba nos olhos loucos por ti.
De mãos estendidas
não sei se te mendigo ou regateio
nem se te enrolo nua no meu refúgio
e unidos por penachos de amor,
dar aos destinos a verdade, insubmissa
na firme certeza de acordarmos ilesos
pejados de beijos e dias velozes.
Eu não sei porque não te tiro do sono
quando me esqueço e durmo
de sobrolho na vigília das cores,
mas sei que as plantas e as aves na rua
farfalham entre si as tropelias do desejo
com o olhar ornado de vida.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Sentem-se loucas
Sentem-se loucas, as horas
doidamente perdidas
no prefácio da vida,
aos tombos e soluços
no convés da angústia.
Sentem-se sós, os olhares
trocados em pecado,
penitentes
nos sargaços do sentimento,
esventrado por dentro e fora
ao mais fundo do ser só.
Sentem-se carentes, as almas
dos beijos dos amantes,
do riso da paixão bravia
num mero gesto amigo
que o amor encerra
no lume dos dias.
Sentem-se loucas, as vidas
brejeiras de vaidades tolas
e raivas a rodos, sufocadas
trespassadas de morte
por um punhado de coisa nenhuma.
Sentem que sentem, surdamente
lançam-se ao ar num sopro
e navegam sem norte
pelos outonos dos sonhadores,
onde o tempo se entrega
à loucura em que se sentem
o que sentem reais..
doidamente perdidas
no prefácio da vida,
aos tombos e soluços
no convés da angústia.
Sentem-se sós, os olhares
trocados em pecado,
penitentes
nos sargaços do sentimento,
esventrado por dentro e fora
ao mais fundo do ser só.
Sentem-se carentes, as almas
dos beijos dos amantes,
do riso da paixão bravia
num mero gesto amigo
que o amor encerra
no lume dos dias.
Sentem-se loucas, as vidas
brejeiras de vaidades tolas
e raivas a rodos, sufocadas
trespassadas de morte
por um punhado de coisa nenhuma.
Sentem que sentem, surdamente
lançam-se ao ar num sopro
e navegam sem norte
pelos outonos dos sonhadores,
onde o tempo se entrega
à loucura em que se sentem
o que sentem reais..
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Jardim de aromas
Os jasmins jantam-se pela manhã
os lírios amuam o sangue
as dálias mais as rosas
troteiam maldizeres vizinhos
à porta dos verves cravos curiosos...
os malmequeres, levianos, fazem troça
enquanto fingem olhar a beleza dos muros.
Rasteiras, as ervas arejam o corpo
nos véus das flores viúvas.
Coberto de céu,
é uma manhã tardia
de um jardim zangado com o dia.
os lírios amuam o sangue
as dálias mais as rosas
troteiam maldizeres vizinhos
à porta dos verves cravos curiosos...
os malmequeres, levianos, fazem troça
enquanto fingem olhar a beleza dos muros.
Rasteiras, as ervas arejam o corpo
nos véus das flores viúvas.
Coberto de céu,
é uma manhã tardia
de um jardim zangado com o dia.
Carta a um irmão distante
Irmão
... a mãe morreu
no bolor do silêncio
que trazia nos olhos.
Arrancada à vida
devolvi-a à terra
com lágrimas por dentro.
Nas traseiras do quintal
calcetei-lhe o sono
com flores de luz que duram muito
e sabem poemas de cor...
Rezei o terço à minha maneira
com palavras inventadas do luto
que me mordiscava a voz.
Fiquei ao lado dela
até a sentir aninhar-se
nas formas do chão.
Falei-lhe de ti, desse tempo
inconstante
- o pior da morte é a morte não ter voz
e teimar em ficar calada por muito tempo!
A mãe morreu natural.
Já nada me prende aqui.
A herança é pobre demais,
fica com ela que eu parto agora
à procura de melhor sorte.
... a mãe morreu
no bolor do silêncio
que trazia nos olhos.
Arrancada à vida
devolvi-a à terra
com lágrimas por dentro.
Nas traseiras do quintal
calcetei-lhe o sono
com flores de luz que duram muito
e sabem poemas de cor...
Rezei o terço à minha maneira
com palavras inventadas do luto
que me mordiscava a voz.
Fiquei ao lado dela
até a sentir aninhar-se
nas formas do chão.
Falei-lhe de ti, desse tempo
inconstante
- o pior da morte é a morte não ter voz
e teimar em ficar calada por muito tempo!
A mãe morreu natural.
Já nada me prende aqui.
A herança é pobre demais,
fica com ela que eu parto agora
à procura de melhor sorte.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Momento feliz
Dei-te rosas que colhi
no coração do meu sossego
quando feliz me vi por dentro
e deixei cair das flores
o que me vai no pensamento.
Dei-te núvens sem grilhetas
que trazia no olhar
num dia de muitas quimeras,
pelos passos do momento.
Depois tirei da boca um desejo
e da face deixei fugir
um deslumbramento
com feições de alegria
e o cheiro de uma carícia
que só quem ama vê.
Dei-te a emoção e o mimo
de um instante feliz
de um olhar que não sabe mentir
o amor vassalo e doce,
trespassado pela paixão,
verve inquilino do meu corpo,
lume vivo no tempo.
no coração do meu sossego
quando feliz me vi por dentro
e deixei cair das flores
o que me vai no pensamento.
Dei-te núvens sem grilhetas
que trazia no olhar
num dia de muitas quimeras,
pelos passos do momento.
Depois tirei da boca um desejo
e da face deixei fugir
um deslumbramento
com feições de alegria
e o cheiro de uma carícia
que só quem ama vê.
Dei-te a emoção e o mimo
de um instante feliz
de um olhar que não sabe mentir
o amor vassalo e doce,
trespassado pela paixão,
verve inquilino do meu corpo,
lume vivo no tempo.
Dedicatória íntima
Porque dei ao meu dia
o teu perfil,
e cheiras a sorrisos
nos meus olhos áridos...
Porque és um mar súbito
no ventre de um desejo, submisso
em que o teu corpo
é um porto marinho
onde calo as águas loucas
de uma solidão altiva...
Porque és fêmea
e dissolves em amor
os momentos mais prementes,
ou porque a tua alma
tem odor a ternura,
dou-te o silêncio carnal
das minhas noites...
... e o meu vazio
também é teu,
o meu sonho é a tua viagem
onde te pertenço.
Porque os lábios
se unem em abraços
num gesto meigo e quente,
húmido até, suspenso na vertical...
Porque és
um segredo meu,
que os dedos acolhem sublimes,
na intimidade
duma brisa que chora
quando as horas passam
em contornos dalguma mágoa existencial...
Porque te confesso
a minha verdade
ou porque o sangue arde
no arfar de cada carícia
e as palavras éteras
ricochetam no peito,
em forma de uma poesia...
Porque adormeces
nas minhas mãos,
e a tua voz
é a distância dum sussurro,
solto em uníssono
no bordo de um sono
que já é apenas nosso...
Porque és a vida
que ejaculo da mente,
a lembrança contínua que fumo,
na mesma ânsia
em que te chamo...
... na mesma névoa óssea
em que o teu nome
é o grito melífluo
dum enorme nodal, suicidado
na textura singela duma dor,
um rumor que cresce
nos acasos que albergo longe de ti...
Porque és a ravina
do meu precípicio,
a chuva colhida
num charco de mágoa triste,
ou a erupção dum vento
que morre em cada despedida...
Porque és o que resta
do meu naufrágio animal...
Porque te amo...
o teu perfil,
e cheiras a sorrisos
nos meus olhos áridos...
Porque és um mar súbito
no ventre de um desejo, submisso
em que o teu corpo
é um porto marinho
onde calo as águas loucas
de uma solidão altiva...
Porque és fêmea
e dissolves em amor
os momentos mais prementes,
ou porque a tua alma
tem odor a ternura,
dou-te o silêncio carnal
das minhas noites...
... e o meu vazio
também é teu,
o meu sonho é a tua viagem
onde te pertenço.
Porque os lábios
se unem em abraços
num gesto meigo e quente,
húmido até, suspenso na vertical...
Porque és
um segredo meu,
que os dedos acolhem sublimes,
na intimidade
duma brisa que chora
quando as horas passam
em contornos dalguma mágoa existencial...
Porque te confesso
a minha verdade
ou porque o sangue arde
no arfar de cada carícia
e as palavras éteras
ricochetam no peito,
em forma de uma poesia...
Porque adormeces
nas minhas mãos,
e a tua voz
é a distância dum sussurro,
solto em uníssono
no bordo de um sono
que já é apenas nosso...
Porque és a vida
que ejaculo da mente,
a lembrança contínua que fumo,
na mesma ânsia
em que te chamo...
... na mesma névoa óssea
em que o teu nome
é o grito melífluo
dum enorme nodal, suicidado
na textura singela duma dor,
um rumor que cresce
nos acasos que albergo longe de ti...
Porque és a ravina
do meu precípicio,
a chuva colhida
num charco de mágoa triste,
ou a erupção dum vento
que morre em cada despedida...
Porque és o que resta
do meu naufrágio animal...
Porque te amo...
terça-feira, 7 de julho de 2009
Como escrever-te
Como escrever o teu nome
na água dos meus poemas
sem levar à boca
algum ramo do teu sabor.
Como escrever de ti
no pó dos corações
se pelos teus olhos
andam os meus enamorados.
A noite,
ainda menina no meu colo
é um fio de versos
que as horas levam e trazem
sem que o breu me detenha,
nem o silêncio incomode
os momentos sós em que te penso
sentado num chão de muitas emoções.
Não há rio que quebre o mar
nem ondas que neguem às praias
as suas marés de pedra e ecos.
E na poeira dos dias que me sobram
tenho pressa em viver os mimos teus
e sentir sobre o corpo deitado
a mulher que em ti pesa,
como um vendaval de amores
que se soltam dóceis
num sangue a nós doado manso
e vontades de não mais acordar.
na água dos meus poemas
sem levar à boca
algum ramo do teu sabor.
Como escrever de ti
no pó dos corações
se pelos teus olhos
andam os meus enamorados.
A noite,
ainda menina no meu colo
é um fio de versos
que as horas levam e trazem
sem que o breu me detenha,
nem o silêncio incomode
os momentos sós em que te penso
sentado num chão de muitas emoções.
Não há rio que quebre o mar
nem ondas que neguem às praias
as suas marés de pedra e ecos.
E na poeira dos dias que me sobram
tenho pressa em viver os mimos teus
e sentir sobre o corpo deitado
a mulher que em ti pesa,
como um vendaval de amores
que se soltam dóceis
num sangue a nós doado manso
e vontades de não mais acordar.
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