domingo, 9 de agosto de 2009

Guardião

Repousa o teu corpo
no vício dos passos,
sossega o sangue nervoso
dessa existência fértil de medos, breus
e acalenta na ideia voraz do rosto
a fugaz primavera de um sonho lindo
que vento algum desalinha
venha a tormenta que venha
dos quatro céus endiabrados...
Dorme.
Penteia o sono com os dedos
ainda húmidos de amores degolados,
livres de enganos e enganados,
num atlântico de esguios beijos suados.
Dorme! Sem alvoroço,
no topo do burgo...
Lá fora o mundo regateia sombras distantes
num desacato de dores lúbricas, anónimas
enquanto no tecto da vida
as verdades são sombras sumptuosas,
nubladas de inquietações,
sinistras nocturnas,
no zelo das ocasiões... tropelias.
Dorme. Nada temas do doravante,
pousa o pensamento exausto de fugir,
não sabe de quê, despojado...
não sabe para onde, sonâmbulo...
como tudo na vida.
Dorme.
Hoje eu sou pastor e cão de caça
pelas eiras muradas da intranquilidade
onde só os lobos dormem
seja qual for a hora e o desejo!

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