segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Jardim de aromas

Os jasmins juntam-se pela manhã
os lírios amuam o sangue
as dálias mais as rosas
troteiam maldizeres vizinhos
à porta dos verves cravos curiosos...
os malmequeres, levianos, fazem troça
enquanto fingem olhar a beleza dos muros.
Rasteiras, as ervas arejam o corpo
nos véus das flores viúvas.

Coberto de céu,
é uma manhã tardia
de um jardim zangado com o dia.

sábado, 26 de setembro de 2009

Se não te pretenço

Se já não sou teu pagem
amante e saltibanco das tuas noites
tão ávidas de mimo,
se nem tão pouco me pertences
em qualquer lugar da vida
e nada somos em sentimento nenhum,
então porque não me dás alforria?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Em busca de mim

Procurei a vida
nas vielas de um tempo manso
e sem sucesso urdi os dias
até ver o céu cair-me aos pés,
nas matizes viúvas da alma
entre vendavais da carne óssea,
no peito do chão.
Fatigado do marasmo
sentei os olhos à soalheira
e resgatei o sonho mais doce
que a lembrança volvia
enquanto o coração ardia gemidos
em romarias de dor oculta
que só gente assim sofre!

sábado, 19 de setembro de 2009

Junto ao mar

Se me vires junto ao mar
sentado num olhar que se adensa e foge
não temas a queda, tragédia
apenas espero aquela alma maruja
que no mar deixei ficar à deriva.
Se me vires chorar no seu fragor
não fervilhes medos, receios
que o mar ouve as dores, lamentos
entende as vidas que sussurram,
miragens e falácias, frios
tempestades ou calmarias…
Se vires o mar estatelar-se no rosto
com silêncios e desejos pilhados no tempo
não estranhes teu semblante
porque o mar é um velho amigo
nas hordas da minha paixão.
Mas se um dia o mar me trair
pelo perpetuar da memória,
vem à praia molhar os lábios
sentirás os meus beijos de sal
no marulhar das ondas aos risos,
e saberás o que o mar à muito sabe
… que te amo muito

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Fuga à morte

Sem disfarçar as escuridões
aos passos,
a morte entrou sem bater
em casa do vizinho.
Fingiu que não me via
espiá-la no rebordo da vidraça,
e sorria...
e os sorrisos eram como promessas
de presságios sem bênção.

Sem esperar o epílogo ao romance
fiz as malas e fugi pelas léguas
de qualquer rumo.
... Pelo caminho esqueci o nome.

domingo, 13 de setembro de 2009

Matizes de um momento escuro

Não me contenho e sofro
diariamente,
um mundo diferente, doente
onde a dor também é gente
e o tempo uma navalha
um medo, torpor
o evidente era dilema
e o sonho uma soberba poesia,
num mar de desalentos
e eu só me lamento
ou choro as horas, utopias
como quem enviuva de paixão.
Deboto, perco a graça
e morro por dentro
no mais louco silêncio
uma fúria sem fim
em forma de veneno, ardil
um buraco no ar, alucinante
gritando por mim, assim mesmo
tal qual vos conto e digo
... pensamentos são amantes
formas cegas de padecer permente,
que no auge da voz se atiça ao ausente
e mente o olhar perdido de tormentos
com uma mão afogando o vento
e a outra singrando no covil do alvorecer.
Ressonam os instintos dentro dos ossos
algures nas vidas manhosas,
e os carinhos, ternuras tontas
de beijos e volúpias, feitiçarias
deixam saudades dos bosques de amor
para sempre à soleira dos meus olhos pretos
como a escuridão do destino
a brincar perto de mim, quase tocando.
... por um triz ser a morte.

Palavras perdidas

Perderam-se as palavras
no leito das origens
que o mar traz seguro,
e perdi-me com elas
no vasto espaço
das minhas ideias.

... perderam-se!
Esquecidas na melopeia
das frases pobres,
incabadas,
subindo em mim
plenas de confusas.

Coitadas.
Deliram na voz,
na exactidão do silêncio
de meus íntimos vícios,
ímpares...
Cépticas palavras
que atropelam sem rumo
a acidez da minha harmonia.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Tudo à pressa

Cheguei à pressa
com a pressa de chegar
e partir, veloz
porém antes escrever
um poema para ti...
e escrevi,
depois parti
à pressa,
como vim...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Hoje

Hoje queria ver-te
falar contigo, de ti
marulhar nas emoções
e tocar as têmporas do desejo,
com parelhas de mimos
alados a noite inteira.

Queria prender-te aos olhos,
fundir o carinho dos silêncios
com a paixão da alma
esfaimados pelo amor imerso,
com o brilho da vida
a sibilar no abraço da voz.