domingo, 31 de janeiro de 2010

Meretizes

Andam pálidas pelas ruas
as almas das meretrizes,
vão nuas, as vergonhas suas
apedrejadas pelas vielas
sofrem no tecto do mundo
e à noite choram às luas
saudades varinas e horas lindas.

Sobre os brados da memória
correm sonhos em clave de sóis sós
sustidos com a força de dó...
andam sombras perdidas dos passos
são mulheres, outras meninas,
e todas são ninguém...
... um ninguém que magoa
ao sentir-se assim, entre silêncios
e esquecimentos,
como andarilhos velhacos
de todo o pensamento.

sábado, 16 de janeiro de 2010

No auge dos campos (IV)

…à cidade
chegam homens em manadas
- diárias –
como nuvens fora da jaula
no rasto de um sol cobarde
que os anjos protegem
nos braços do senhor!

Tem nas faces gravados
sinais camponeses
da cor do centeio
que se desfolha com as mãos afiadas,
em epidermes de uma fome,
pobre,
saliente nas areias
de um racismo voraz…

suam medos
-disfarçam-nos
na sede de serem
algo mais que a idade
de uma ruga…
as avenidas espantam
os virgens namorados
com mascaras de cinismo
e maldades ou crimes
com que se desnudam
da vergonha
do orgulho…

No auge dos campos (III)

Partem
sem brilho nem velas,
mastros arreados no convéns
de um olhar preso de azul…
…oram
e temerosos dos céus
malfadarem os destinos,
agradecem
a quanta ingratidão
a terra lhes deu.

No auge dos campos (II)

junto ao tempo
os mais débeis
vêem-nos partir
impotentes para a aventura
de uma migração última,
aguardam esquecidos
até que os sonâmbulos
se trucidam e morram!
Para trás,
o silêncio crispado
na boca de um petiz,
que grita baixinho
no aceno de uma mulher que chora…

No auge dos campos (I)

Em voos lentos
as sombras nostálgicas,
animais açoitam flores sós,
o Outono teme o frio
e os campos murcham
tornam-se amargos
os músculos,
cansados de serem apenas
o esgar de uma magra colheita,
que a dó
ceifam com foices a idade.
…os homens ignoram
as sementeiras,
abandonam as trincheiras míseras
e partem no pólen
de um momento de sorte,
nos confins da fatídica cidade
recheada de aliciantes
que só brilham quando os
homens cegam…

…tinham na carne
Uma bússola selvagem.
Nos planaltos estendem-se
Rosas-dos-ventos
Em lençóis de lágrimas,
No pranto de uma despedida…
- o adeus de uma flor
Que foi amante dos mimos seus…
…mãe de um rebento seu também!