domingo, 27 de dezembro de 2009

Amantes sentidos

Deixo os desejos calados
na madrugada que afaga
as minhas risadas noutra boca
onde o amor fluía aprendiz.
Na paz do silêncio neva
entre as vísceras tragando
o silêncio e o desasossego.
... lavado nas emoções do sereno,
noutras ausências morrem ventos
colhidos ao coração que pula
seus ritmos diferentes,
de tudo quanto se sente
no aprender da semente
que a prumo se adulta,
na teima de ser gente!

Amo-a

Amo-a, e por amá-la me sufoco
dia após dia sem hora marcada.
Por ela salto da lua para o chão
as vezes que bastem para a ter amante.

Amo-a. Ela sabe-o e disfarça
com sorrisos de ramos em flor.
Sigo-a sem pensar, pelos passos pequenos
que dá pelos fins de dia.
À noite sonho-a, amo-a e enlouqueço
num padecer sem demência
até que o dia seguinte nasça
na neura dos sentidos.

Amo-a e por tanto a amar
sofro o desconsolo dos olhos
num ardor de memórias
e entranhas que acabam sempre
num retrato dela,
... choro à ganância
e na plena fraqueza
brado o seu nome
e vou mirrando!?...

domingo, 20 de dezembro de 2009

A lágrima morreu

Num caixão sem soalho,
a lágrima ia nua e singela
ia só nos despojos da vida,
ia sem voz nem beleza,
talvez morta pela míngua
talvez farta pela destreza,
mas no fim, a lágrima morreu…
foi uma septicemia fatal
uma dor ansiando ser tristeza,
ou uma tristeza ansiando esquecer,
mas a lágrima morreu,
morreu boçal e livre
num incesto de emoções,
morreu breve e solteira
como deve uma boa lágrima,
morreu apenas
sem sequelas para o coração,
morreu só, morreu chorando
a vida recauchutada
que lhe deu uma peritonite amiga!
A lágrima morreu,
Ficou o sal…

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Solidões mouras

Na ocidental lua nova
ganem saudades e enfins
em quotidianos de alma ardida
e ventos antagónicos
... com a prosa de um poeta
nas escamas do sangue verve
onde os sonos nascem dias
enquanto os anos dançam utopias
nos beiços da vida só!

Com os olhares gratinados
e a língua à míngua da voz
entre fumos e vazios, cinzas
apenas preso às evidências
por um rasgo de luz rosada...
Suados, o ventos trazem avisos
memórias de outras quimeras
que um gesto vulgar desperta e brilha
na essência do pensador.

Ora mansos, ora frios
os desafios salpicam a fé
num fervor mouro à carga
pelo corpo até à alma crua e nua
donde nascem o dia e a lua
apaixonadamente vivos.
- Na orla do espírito
a realidade planta dor e riso
no capim dos acasos virtuais
que vestem os momentos
e trilham o fim dos sentidos...

No calor do silêncio
os olhos lembram amigos idos
e amores vendidos
ao desejo do ser!

Por já não me amares

Por não estar perto de ti
ou por sentir-te longe demais
suei angústias e medos
com os olhos debaixo das mãos
e as mãos dedilhadas
sobre os desejos do peito
... dedos sobre o esmorecer da força
trémulos de inquietações
que ao ver-te fardada de seduções
e no inútil das vezes que tento
amar a espera que desespera
por já de véspera saber
que não virás,
- mas não quero o teu amor
devolvido por pedaços
de esmolas,
saturado de esperanças erradas.

Quero ir para longe de ti
sem que ninguém me veja partir
e já longe, amargurado
sei que vou sentir
a vontade infernosa
de querer estar perto de ti!

Espero-te

Vem! Eu sou a ramagem
e tu és o sol que nele se dorme,
a mansidão do tempo,
correndo pelos beijos e abraços
de um momento singelo, iluminado

Vem, vem solta para mim
tráz de novo o sonho lindo
onde eu sou o teu herói
e tenho os olhos redondos de amor
por ti ardentes e paixão!

Vem! Eu sou o crepúsculo
que sempre te espera aqui
com essa saudade híbrida
que deixa o vazio
da tua ausência.