sexta-feira, 16 de abril de 2010

Não te crei, Senhor?!

Dei o meu corpo
ás tuas raízes…
Senhor
e também dei a alma
que te entrego fiel!
…doei-te o meu existir
nu a teu olhos
abro os braços febris,
abro o peito ao fogo que me habita,
e o sentir dilata-se
cresce, nos fios do teu lar
ou nas contracções dum sol
escorrendo sem rumo,
na vertente da face
onde separo a vida
…onde a fé é um eco
deste mundo em sangue…
Não te creio, Senhor!
…e sei que morro!
sabem as veias,
o acordar diurno das fogueira
…e sobe a solidão
na penumbra nocturna
cavada em restos de luar…
Não me sinto profeta!
Não o sou, sei-o!
não possuo no ventre
o ritual dos sábios
ou as encéfalos sem pele
dos mensageiros do céu!
…mas não te creio, não!
Senhor
agora os homens cantam,
e canto com eles
entoações cinzentas duma espera inútil
ao câmbio do tempo!
…Não! Não te creio!
suprimo à mente
a imagem do teu templo
recolho da razão íntima
todo o cepticismo,
que a certeza decifra
na própria incerteza!
Creio no irreal
no vazio indefinido do absurdo…
Na paz!
Busco-a no meu espaço,
mas não a tua paz
onde os deuses se enlaçam
e se abandona o real!
Senhor!
sim creio na paz
na que oculto no útero
com o fulgor bravio
do silêncio que invento,
lanço à tua silhueta
o meu discreto desafio!
Não, Senhor Deus
não te creio…
Contudo
invoco-te confuso
da certeza do teu existir!
desconheço-te!
…sabes o meu nome
…eu sei a distância
pelo tempo fora…

terça-feira, 13 de abril de 2010

Olhei-te

Olhei-te do cimo de mim
para o creme da tua vida
cansada de horas descontentes.

Olhei o outro lado do sonho
pelos vidros da bisbilhotice
e o zelo foi-se dos ossos
no fundilhos do desvario...

Olhei-te na hesitação dúbia
pelo lado irrequieto do sentimento,
sôfrego nas meias-horas de uma metade
e esperei pelo anoitecer para te comer,
tu e o meu bolo de chocolate

…com o creme da tua vida
olhado do cimo de mim!

sábado, 10 de abril de 2010

Sentir apenas

Sentir o verve quente que nos une,
o abraço solto e férreo que nos enlaça,
a matilha de emoções que nos grassa
e no fim achar o doce encanto do desejo
que para lá das palavras e dos gestos
para além das emoções e dos sentidos,
nos dá vontade de estar outra vez…

Sentir que o encanto se deslumbra
e que todas as palavras que se calam
ficam no âmago do coração,
e sentir que se a vida fosse de outra forma
… minha querida quantas formas te diria
daquilo que não te disse…

Sentir que o sentimento também se cala,
e que no ímpeto do calor, os corpos vibram
e no fim, sentir que sou teu e tu és minha,
entre silêncios que se vestem
com o sentir que temos calados e ocultos,
nas palavras que não dizemos…

Deitei o diabo

Deitei-me com a ira do sono
em tarimbas de exaltação no pensamento,
fingi que dormia com o vento
e fui roubar as noivas do luar
aos píncaros do silêncio envolvente
onde os corpos sonham ausentes,
ladrilhados de brados brancos
pelo linho das manhãs
onde o diabo dormia
vertiginosos minutos mouros
de um destino que a galopes vivia
o âmbar dos queixumes,
nesta forma de ser
no ventre das evidências…

domingo, 4 de abril de 2010

Deixei assim

Da boca deixei cair beijos
Serenamente calados,
Tristemente silêncios
Como todos aqueles beijos bons
Que se dão só para nós.

Da alma deixei tombar os olhos
Porque no caminho os perdi,
E na estranheza do sentir
Vegetei ao sangue maduro
O sangue que tanto vivi.

Do corpo deixei trucidado
O espírito, e o senso sem vestes
Deixei o âmago, e a utopia
Versejei a mentira, a cor
E corri atrás de um temporal
Que afinal não tinha fim.

Do resto deixei o gesto
Suspenso nas hipérboles mais loucas
Das loucas simetrias que a vida tem,
Deixei o riso e a palavra, o silêncio
E o que de melhor sonho
Tem o sonho além…