sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Desertificação

Não há homens nos campos
e os desertos ardem
na própria secura dos ossos.
As terras estão lavradas a sangue
por sulcos movediços
em que os animais se perdem
do tempo.
A paisagem é o verde sofrimento
da carne,
a mágoa confunde-se
na medula do horizonte
e as flores latem seus despojos
entre as cartilagens
de um ângulo
roubado num único lamento.

Não há pastores nos montes
e os anjos já não cantam
o lume dos olhos.
E quando o outono finda
os homens hibernam com as aves,
em bandos de poetas clandestinos.
A primavera trá-los-á de novo,
nos primeiros abraços de luz,
e o amanhã é um motim
na fé dos mais pobres.
... Longe da voz,
a ângustia curva de um vento
que chora de mão em mão,
de silêncio em silêncio.

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